Entre o Visível e o Invisível
Quando
pensamos em um tema como “a teologia da espiritualidade cristã”,
tentamos pautar valores e formas na relação do espírito humano com Deus.
Isso devido as múltiplas ofertas de “espiritualidade” que encontramos
no mercado religioso, principalmente nas prateleiras evangélicas.
De um lado, existe no caldeirão sincrético brasileiro um tipo de espiritualidade que podemos denominar corporativa: são mantras, velas, correntes e orações como meios de alcançar sucesso nos negócios ou criar uma atmosfera zen
no ambiente profissional. Sem falar no misticismo das cartas, búzios e
cristais, superstições voltadas principalmente para a área emocional.
Do outro lado está a espiritualidade “gospel”, que mais se identifica com uma cultura de consumo
do que com a ética derivada dos ensinos de Cristo. Tal cultura favorece
os mercadores da religião, que lucram com um tipo de fé burra e
impulsiva. Os produtos oferecidos vão desde liturgias de massa,
até amuletos da fé, como chaveiros, caixinhas de promessas, bíblias nos
mais diversos formatos, modelos suficientemente irreconhecíveis ou
disfarçáveis. O problema não é a forma das bíblias e da liturgia, mas a
indiferença ao seu conteúdo, principalmente, o esquecimento da essência
registrada em suas páginas e da prática exigida na vida do leitor.
Tais “espiritualidades”
apóiam-se na fé inflamada pelos símbolos, ou seja, precisam do visível
para crer no invisível. É a idéia do ver para crer, uma forma de
ceticismo revestida de prudência, onde a segurança dos sentidos é
defendida em detrimento da fé. No entanto, não podemos negar que a
espiritualidade possui seu lado visível. Pois a comunhão do nosso ser
com Deus, evidencia-se em ações, práticas e palavras coerentes com o
modelo que Jesus nos deixou. Como a Lei que gere o cristianismo não pode
ser cumprida na individualidade, a espiritualidade cristã deve primar
pela experiência em comunidade e por uma relação amorosa com o mundo sem
Deus. Assim sendo, a saúde de nosso espírito se mostra quando satisfaz a
vontade de Deus na prática do bem ao próximo. É um princípio presente
em toda a Revelação, especialmente nos escritos do Novo Testamento.
O apóstolo João, por exemplo, fala da impossibilidade de amar ao Deus Invisível sem amar ao irmão a quem vê: “Se
alguém disser: Amo a Deus, e odiar o seu irmão, é mentiroso; pois
aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem
não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a
Deus ame também a seu irmão” (I Jo. 4:20, 21).
Já Tiago critica a inutilidade de palavras “abençoadoras” não acompanhadas de gestos de amor. O seu ensino nos desafia a mostrar a fé invisível através da visibilidade das obras.
“Mas alguém diz: Tu tens fé e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem
as obras, e eu, com as minhas obras, te mostrarei a minha fé” (Tg. 2:18).
Jesus
também mostrou perfeitamente equilíbrio na relação invisível-visível.
Ele cultivou momentos reservados de devoção a Deus (Mt.14:23) e também
revelou seu amor ao Pai em suas atitudes (Jo.14:31).
A característica marcante do relacionamento de Jesus era sua contínua
submissão, o prazer em fazer a vontade de Deus.
Portanto,
perceba que não há como separar espiritualidade de vida prática. O
relacionamento invisível do nosso ser com Deus evidencia-se através do
bem que praticamos por meio do corpo (2ª Cor. 5:10).
Pr. Alex Gadelha
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