Por Daniel Grubba
De
acordo com o que se previa décadas atrás, a religião já deveria estar
extinta. Por mais de um século, grandes pensadores profetizaram o
despertar de uma nova aurora, onde a ignorância de um período negro,
dominado pelo primitivo pensamento religioso, sucumbiria diante de uma
nova ordem social totalmente secular e profana. O antropólogo de Cambridge James Frazer
(1854-1941) foi um desses "sonhadores" que apostaram no triunfo da
ciência. Em sua grande obra de 1890 "O ramo de ouro", o apóstolo do
secularismo, previu a humanidade transpondo o estágio mítico-religioso para o científico.
Para
espanto e desespero de muitos, isso não aconteceu. Nenhum movimento,
por mais poderoso e influente que fosse, jamais conseguiu erradicar da
essência humana o sentimento pelos deuses ou sua intrínseca busca pelo transcendente.
Mas há que se reconhecer: hoje a religião já não diz muita coisa. Aos
poucos ela foi lançada para fora das discussões públicas, confinou-se
numa metafisica ultrapassada, satisfazendo-se solitariamente em sua torre de marfim, sobrecarregada de intermináveis especulações e apregoando uma transcendencia absolutamente desconectada (para não dizer inimiga) da imanência.
Rubem Alves no seu livro "O que é a religião?" responde aos prognosticadores
do secularismo mostrando a insistência da religião enquanto desnuda seu
estado decrépito no mundo de hoje. Ele responde assim a pergunta
"Desapareceu a religião?":
"De
forma alguma. Ela permanece e frequentemente exibe uma vitalidade que
se julgava extinta. Mas não se pode negar que ela já não pode frequentar
aqueles lugares que um dia lhe pertenceram: foi expulsa dos centros do
saber científico e das câmaras
onde se tomam decisões que concretamente determinam nossas vidas [...]
Não me consta, igualmente, que a sensibilidade moral dos profetas tenha
sido aproveitada para o desenvolvimento de programas econômicos.
E é altamente duvidoso que qualquer industrial, convencido de que a
natureza é criação de Deus, e portanto sagrada, tenha perdido o sonho
por causa dos males da poluição. Permanece a experiência religiosa, mas
fora do mundo da ciência, das fábricas, das armas, do dinheiro, dos
bancos, da propaganda, da venda, da compra, do lucro".
Um certo tipo de cristianismo ajudou a afastar da sociedade a religião. A fim de não participar da "mesa dos demônios" criamos nossa subcultura evangélica, um rincão
de segurança contra o presente século. Através do discurso e da
linguagem dividimos o mundo em coisas seculares e sagradas, santas e
profanas, e assim, reduzimos nosso espaço de atuação
a dias, pessoas e lugares santificados. Por enquanto, estamos
preocupados apenas com as coisas do andar de cima, do céu, ou como disse
Dietrich Bonhoeffer o reino da graça. Não temos muita coisa para falar sobre outros assuntos que não o destino eterno das pessoas e a administração do mundo invisível .
O movimento para tentar sair deste quartinho de castigo em que nos encontramos foi tentar usar a via política. Assim, como crianças
mimadas, choramos para o mundo nos ouvir de dentro das estruturas
políticas. Ouçam! Vamos falar! E apresentamos geralmente dois discursos
inflamados contra aborto e homosexualidade, nada mais. Esse ativismo
político não deu certo e nem vai dar. O trabalho para tornar a fé
relevante é de todos e não de alguns chamados para ser uma espécie de messias.
Concordo com o escritor, pastor e pós-modernista Brian Mclaren
quando ele diz que embora a mensagem do Reino fosse pessoal, ela não
era privativa. A mensagem cristã integral deve envolver toda a realidade
e não somente uma faceta dela. Por isso, a verdadeira religião tem tudo
a ver com as questões públicas de um modo geral. A verdade que Deus
revelou abarca economia, ecologia, politica internacional, ajuda
humanitaria, e é poderosa para trazer luz sobre as mais diversas
questões e desafios de nossos dias.
Deixo uma provacação do
pesquisador Dinesh D´Souza da Universidade de Stanford enquanto oro para
que apareça uma geração que não seja do mundo conquanto esteja no mundo buscando sua redenção: "Em
vez de se engajar no mundo secular, a maioria dos cristãos optou pela
solução mais fácil, refugiando-se em uma espécie de subcultura cristã
[...] vivem de acordo com o evangelho das duas verdades. Há a verdade
religiosa, reservada para os domingos e dias de adoração, e há a verdade
secular, que se aplica ao restante do tempo. Este estilo de vida é
contrário ao que a bíblia ensina.
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