Decididamente, vivemos em tempos excepcionais. A eleição de Jorge Maria Bergoglio ao
pontificado marca a abertura de uma nova era no Vaticano. Aqueles que
vêm na eleição do primeiro Sul-Americano ao cargo máximo da Igreja
Católica um momento histórico no percurso da Igreja Católica não estão
enganados. Mas o que faz com que o novo Papa seja excepcional não é o
facto de ser Argentino, mas sim o facto de este ser um membro destacado
da infame Companhia de Jesus,
protagonistas centrais da inquisição, a força intelectual por detrás
dos misteriosos ‘Illuminati’, e indiscutivelmente, a vanguarda
intelectual do Vaticano nos últimos séculos.
Breve História
Ao
largo dos séculos, o Vaticano e a Companhia de Jesus têm tido relações
ambíguas, por vezes amigáveis, outras vezes completamente hostis e
violentas. Fundada em 1540 por Ignacio Loyola, a Companhia estabeleceu a
sua fama e poder por causa do seu trabalho missionário, no qual se
destacou como a ordem com maior capacidade de infiltrar e converter as
populações indígenas do mundo inteiro, da América do Sul, até o
continente Africano e até no Japão.
Em 1773, depois de acusações continuas de subversão política e exploração económica, a sociedade de Jesus foi expulsa da maioria dos países da Europa pela
ordem do Papa Clemente XIV, com a exceção da Prússia e da Rússia. A
fama da Companhia como mestres da conspiração finalmente teve um custo
político elevado. A ponta de lança da repressão da Companhia de Jesus na
Europa foi o Marquês de Pombal, que expulsou a Companhia de Jesus de
Portugal em 1758.
A perseguição
dos Jesuítas obrigou a Companhia a operar cada vez mais na
clandestinidade durante as décadas seguintes. Este período viria
representar um processo de aprendizagem muito valioso, e iria dotar os
Jesuítas de capacidades de infiltração, subversão assim como um profundo
ódio pelo Vaticano de que não dispunham previamente.
Clandestinidade e Infiltração
No dia 1 de Maio de 1776, Adam Weishaupt,
um aristocrata Alemão educado por Jesuítas, funda uma ordem
inicialmente apelidada de ‘Perfectibilistas’, depois renomeada
‘Iluminados da Baviera’, coloquialmente chamados de Illuminati.
Weishaupt é um dos primeiros exemplos de coadjutores Jesuítas que vieram
a ter uma grande influência na vida política da Europa. Os Illuminati
adoptaram uma estrutura hierárquica em pirâmide baseada na obediência
total dos subordinados aos seus líderes, disposição organizacional
directamente inspirada pela estrutura da Companhia de Jesus. À imagem da
Companhia, os Illuminati foram banidos pelo governo da Baviera em 1785
com o apoio do Vaticano. Porém os seus membros conseguiram infiltrar
círculos de aristocratas revolucionários através da Europa, e o próprio
Presidente dos Estados Unidos, George Washington, em 1798, afirmou estar
convicto que os princípios dos Illuminati, que menciona em paralelo com
o Jacobinismo, infiltraram os Estados Unidos. Ele pronunciou-se
inequivocamente sobre o assunto da seguinte forma: “Não tinha intenção
de duvidar que, as Doutrinas dos Illuminati, e os princípios do
Jacobinismo se tinham espalhado nos Estados Unidos da América. Pelo
contrário, ninguém está mais verdadeiramente convicto desse facto do que
eu”.
Adam Weishaput tinha todas as características de um coadjutor Jesuíta
O
fervor revolucionário na Europa instigado em parte pela influência das
doutrinas dos Illuminati, assim como o sentimento de traição pelo clero
que resultaram da supressão da Companhia pelo Vaticano, tiveram uma
marca visível nas ideologias que resultaram na Revolução Francesa.
Nomeadamente, esta foi marcada pelo pensamento secular e pela
desconfiança pelo clero do Vaticano. Este período revolucionário
culminou na emergência de Napoleão como Imperador da França. Napoleão
criticou fortemente a Companhia, dizendo inclusivamente que esta se
trata de “uma organização militar, não uma ordem religiosa. O chefe é o
chefe de um exército, não somente um frade monástico. E o objectivo
desta organização é poder- poder no seu estado mais despótico- poder
absoluto, poder universal, poder pela vontade de um só homem… O
Jesuitismo é o mais absoluto despotismo… e ao mesmo tempo o maior e
mais enorme dos abusos”.
Reinstituição
Porém
seria o próprio Napoleão a desempenhar um papel instrumental na
reconstrução da velha ordem política na Europa em geral, e na
reinstituição da Companhia em particular. Foi somente depois das guerras
Napoleónicas que o Papa Pio VII, depois de vários anos de exilo,
decidiu reinstaurar a Companhia em 1814. Depois da sua reinstituição, a
Companhia teve o seu maior período de crescimento na história, e retomou
a posição de vanguarda pedagógica e intelectual do Vaticano. Mais
recentemente, a Companhia construiu o legado doutrinal que levou à
reforma do Vaticano através do Conselho Vaticano II,
que marcou o inicio de uma maior abertura teológica pela parte de
Igreja. Os Jesuítas são igualmente a inspiração por detrás de Teologia da Libertação na América Latina.
A
eleição de Bergoglio representa uma grande vitória para a Companhia,
cujas relações com o Vaticano eram, até aqui, muito tensas. O ultimo
Papa que fez frente à Companhia foi o Papa João Paulo I, que ocupou o
pontificado durante somente 33 dias, tendo sido envenenado. A ascensão
do primeiro Jesuíta ao lugar de Papa representa uma vitória inédita para
a Companhia sobre o Vaticano.
A Vanguarda Intelectual do Vaticano
A
Companhia de Jesus é vista como a vanguarda intelectual do Vaticano, e
com razão. Foram eles que conseguiram através da sua maior flexibilidade
intelectual e pragmatismo levar o Catolicismo mais longe do que
qualquer outra força evangelizadora no passado da Igreja. Porém a
Companhia tem um passado de conspiração, assassínio, infiltração e
perseguição religiosa. A inteligência superior dos Jesuítas faz com que
sejam mestres da intriga e da infiltração. A importância da Companhia durante a Inquisição trai
a sua verdadeira natureza. E o novo Papa já deu um ar da graça
maquiavélica dos Jesuítas- a escolha do nome Francisco pela parte de
Bergoglio é estrategicamente magistral, tendo escolhido invocar o
fundador de uns dos grandes rivais da Companhia de Jesus, a Ordem Franciscana,
Francisco de Assis no seu nome como Papa. Esta escolha ilustra a
abordagem Jesuíta para com os seus inimigos e rivais- preferem co-optar,
infiltrar e lisonjear os seus detractores em vez de os atacar
diretamente, a isolarem-se ou a insultarem publicamente. Não são, por
causa disso, menos perigosos, muito pelo contrário.
A
inteligência superior dos membros da Companhia de Jesus não deveria ser
razão para os progressistas acreditarem que a eleição de um Jesuíta
para o pontificado represente um paço na direcção da reforma positiva.
Pelo contrário, a eleição de um Jesuíta só aprofunda a tendência
preocupante que se tem vindo a desenvolver desde a sua reinstituição em
1814. A Companhia caminha rapidamente para a hegemonia política, sendo
as suas áreas de maior influência as instituições de educação, a finança
e as instituições supranacionais. A Casa das Aranhas já publicou um
artigo que aborda a influência da Companhia no Banco Central Europeu,
intitulado ‘A Tomada de Poder do BCE e a Geopolítica de Dívida’. Van
Rompuy, Mario Draghi, Mario Monti, Paulo Portas, entre muitas outras
figuras importantes da política Europeia foram educados por Jesuítas e
agem claramente como coadjutores. Historicamente, a Companhia
recruta coadjutores, ou seja, indivíduos que instrumentalizam e ajudam a
ascender politicamente simultaneamente, de entre os estudantes que
forma através das suas centenas de escolas e universidades espalhadas
pelo mundo. Von Rompuy declarou com orgulho sobre si próprio e sobre os
arquitetos da Europa Federal: ‘Somos Todos Jesuítas‘.
A Federalização iminente da Europa, que utiliza a chantagem, o
subterfúgio, a dissimulação e os avanços incrementais em oposição aos
avanços abruptos tem o odor inconfundível do Jesuitismo. Sobretudo, é
através da
e instrumentalização da crise da dívida pública que a Europa Federal está a emergir, o Banco Central Europeu, liderado pelo coadjutor Jesuíta Mario
Draghi, está cada vez mais a destacar-se como a instituição com maior
margem de manobra para resolver a crise e sair dela fortalecida ao mesmo
tempo, assim como sendo uma das instituições que mais tem lucrado com a crise.
Uma
outra questão será a que ponto é que o novo Papa poderá ser visto
verdadeiramente como o líder do Vaticano. Afinal de contas, os Jesuítas
devem obediência absoluta e incondicional aos seus superiores, sendo que
Bergoglio, como ex-provincial Jesuíta, deve ‘Obedecer como um Cadaver’ ao seu superior, o General Superior dos Jesuítas, presentemente, o Adolfo Nicolas.
A questão será a que ponto é que a acumulação de cargos (mesmo que não
oficialmente, visto que Bergoglio já não é provincial desde 1979) não
representa um perigo para a separação entre as duas entidades, a
independência do Vaticano perante a Companhia de Jesus assim como a
capacidade do próprio Papa de agir de forma independente.
Outro
facto curioso é que a liderança do Vaticano replicou recentemente o
mesmo padrão historicamente anormal da liderança da Companhia de Jesus.
Normalmente, o General Superior dos Jesuítas ocupa as suas funções até à
morte. Porém recentemente aconteceu um evento raro, o General Superior
dos Jesuítas, Hans Kovenbach, demitiu-se. O mesmo aconteceu com
Ratzinger, que, contra todas as tradições e costumes, se demitiu do
pontificado. Temos portanto, pela primeira vez na História, dois Papas
Brancos e dois Papas Negros vivos ao mesmo tempo. Decididamente, vivemos em tempos excepcionais.
O antigo General Superior da Companhia de Jesus, Hans Kolvenbach (direita), e o actual, Adolfo Nicolas (esquerda)
O Antigo Papa, Joseph Ratzinger (Bento XVI [esquerda]) e o novo Papa Jorge Bergoglio (Francisco [direita])
Alguns Factos Dispersos sobre Jorge Bergoglio (agora: Papa Francisco I)
Bergoglio enquanto cardeal recusou-se a prestar declarações em relação ao sequestro de dois companheiros Jesuítas, sendo ele próprio um dos suspeitos ligados ao crime.
É, supostamente, uma pessoa de costumes humildes, e só um dos seus pulmões funciona.
Bergoglio está intimamente ligado ao Fascismo na Argentina, tendo umamensagem sua sido lida durante
um tributo da extrema-direita argentina aos politicas e militares
mortos por rebeldes anti-fascistas na década de 1970 e 1980.
Bergoglio pode ser visto numa foto com Jorge Videla, general e antigo Presidente da Argentina.
Jorge Bergoglio (Papa Francisco I) e Jorge Videla
João Silva Jordão
Fonte: http://casadasaranhas.wordpress.com/2013/03/13/o-novo-papa-e-a-hegemonia-jesuita/
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