Estamos
acostumados a pedir, em nossas orações, algo que consideramos
importante, porém, quando conseguimos a graça, voltamos a pedir algo
que, muitas vezes, julgávamos trivial e banal, sem ao menos agradecer as
nossas súplicas anteriormente atendidas.
Acostumados a petições intermináveis, julgamos sermos merecedores de
alguma vantagem ou privilégio, simplesmente por termos uma religião e,
algumas vezes, praticarmos a caridade. Doce ilusão pensar que “somos
especiais” por fazer algo que não é mais do que a nossa obrigação.
Podemos usar, neste caso, a metáfora do filho que barganha com o pai
para ganhar um carro se passar no vestibular. Mas a barganha é coisa
antiga e chega a ser cômica em algumas situações, como aquela em que o
individuo barganha com Deus caso venha a ganhar na loteria; irá praticar
caridade e ajudar muitas instituições beneficentes! Mas, sabemos que
quando a matéria sobrepõe à espiritualidade torna-se uma arma perigosa,
capaz de escravizar a sociedade sedenta e desejosa de felicidade, e
achamos que na abonança financeira iremos possuir esta felicidade.
Oramos por projetos pessoais, mas, para amenizar a consciência,
alegamos intimamente que outras pessoas também serão beneficiadas. A
verdade é que pensamos primeiro em nós. É difícil encontrarmos alguém
rogando a Deus para que na caminhada evolutiva não obtenha nenhuma
vantagem e que seja feita à vontade de Deus em sua provação.
E somos ingratos quando não somos atendidos, achamos que Deus não olha
por nós, que somos excluídos ou coisa parecida, pois tantas pessoas
conseguem ser atendidas e nós, não. No livro Palavras de Vida Eterna, psicografado por Chico Xavier, pelo espírito de Emmanuel, podemos ler - no capítulo Rogar -
que “Em circunstâncias diversas, acontecimentos que nos parecem males
são bens que não chegamos a entender, de pronto, e basta analisar as
ocorrências da vida para percebermos que muitas daquelas que se nos
afiguram bens resultam em males que nos dilapidam a consciência e
golpeiam o coração”. Pensamos estar preparados, mas quando este
sentimento não se concretiza nos sentimos incompetentes. Pode levar anos
para entendermos que aquele projeto que tanto ansiávamos poderia ser
prejudicial para nós nesta encarnação por não estarmos aptos a exercê-lo
na oportunidade em que tanto almejávamos.
Mesmo assim, ainda contamos com amigos espirituais que se prejudicam
por se comoverem com nossas súplicas, e em nome do amor, recorrem à
espiritualidade superior, “mas nem sempre estamos habilitados a receber o
que desejamos”, comenta Emmanuel.
A verdade é que nem sempre estamos satisfeitos com o que temos,
precisamos de mais. O sonho de ter um carro é normal, mas porque o
vizinho tem um melhor, precisar se igualar ou superá-lo por mera vaidade
já é um ato de arrogância. Perturbar-se por vulgaridades é prejudicial,
afetando, inclusive, aqueles que nos cercam.
Temos uma quantidade imensa de livros espíritas para podermos estudar,
refletir, trabalhar nossa reforma íntima e moral. Porém, o livro As Vidas de Chico Xavier,
escrito pelo jornalista Marcel Souto Maior, descreve com clareza e
eficiência a missão do nosso querido Chico. É uma leitura imprescindível
para conhecermos melhor este médium que trabalhou fervorosamente na
psicografia de 412 livros, divulgando, assim, a doutrina espírita.
Psicografou mais de 10 mil mensagens às mães que perderam seus filhos;
doou todos os direitos autorais destes livros a entidades espíritas,
pois, como ele mesmo dizia, os livros não eram dele, mas dos espíritos.
Praticou a caridade na íntegra; viveu com simplicidade e cumpriu sua
árdua missão.
Depende de nós aproveitarmos cada momento no trabalho mútuo em prol do
bem, afinal, ninguém evolui sozinho; temos diversos companheiros no
mundo físico e espiritual comprometido conosco!
Autor: Marco Tulio Michalick
Texto publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 83, ano 2010.
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