Dois Mil Anos se Passaram: É
Pouco?
ROOSEVELT PINTO SAMPAIO
Dois milênios são passados da vinda do Divino Mestre ao nosso
convívio para nos entregar os meios de salvação: seus divinos ensinamentos,
consubstanciados em seu
Evangelho , que na verdade é um admirável guia de
comportamento. Orientador perfeito para nossa evolução, não é até hoje levado
em consideração como deveria ser. Vemos a Humanidade imersa em lutas
fratricidas, em que irmãos se destroem em nome de objetivos puramente
materiais, onde o poder, as riquezas, o prestígio, o ódio racial são as grandes
motivações. O pior de tudo é que, muitas vezes, invocam motivações de ordem
religiosa como justificativa desses atos infelizes.
Encontramos lutas internas onde facções estão em conflito pelo
poder em nome de motivos religiosos, nacionalistas, econômicos, políticos,
raciais, dentre outros. Guerras entre países, onde algumas vezes em lugar do
conflito, predomina o estado de guerra. Em "O Evangelho segundo o
Espiritismo", encontramos as palavras de Agostinho em 1861 acerca do
duelo: "(...) O duelo, remanescente dos tempos de barbárie, em os quais o
direito do mais forte constituía a lei, desaparecerá por efeito de uma melhor
apreciação do verdadeiro ponto de honra e à medida que o homem for depositando
fé mais viva na vida futura."(1)
Na realidade, sob a forma de conflito ou guerra, nada mais temos
que um duelo, que, condenado em 1861, ainda persiste. Encontramos, também, no
citado capítulo do referido livro de Kardec uma mensagem assinada por um
Espírito Protetor, datada do mesmo ano, que nos diz: "Ó estúpido
amor-próprio, tola vaidade e louco orgulho, quando sereis substituídos pela
caridade cristã, pelo amor ao próximo e pela humildade que o Cristo exemplificou
e preceituou? Só quando isso se der desaparecerão esses preceitos monstruosos
que ainda governam os homens, e que as leis são impotentes para reprimir,
porque não basta interditar o mal e prescrever o bem; é preciso que o princípio
do bem e o horror ao mal morem no coração do homem."(2)
Qual o
resultado, então? Podemos facilmente constatar. Quantos males! Quantos
prejuízos! Quantas injustiças! Quantas vidas são ceifadas! São o resultado
dessas ações eivadas de barbarismo primitivo. É extremamente difícil entender
que quando temos a indicação de Jesus de que os pilares da Lei Divina poderiam
ser resumidos em: Amar ao Senhor teu Deus sobre todas as coisas e amar ao
próximo como a ti mesmo possam ainda se encontrar estas lutas. Como pensar na
tentativa de justificá-las em nome da religião ou de Deus? Seria possível e
aceitável fazer essa indicação e acabar com essa situação? Evidente que não! O
homem precisa entender cada vez mais que a caridade, a fraternidade e a
solidariedade devem ser os marcos que balizem o seu relacionamento dentro da
sociedade e, mesmo, entre elas. Quantos e quantos sofrem em condições subumanas
sem que se faça algo para resolver essa situação? Quantos morrem dia após dia
por falta de condições mínimas de alimentação, higiene, saúde e abrigo que lhes
são negadas?
Enquanto isso o desperdício, o
consumismo, a ostentação materialista, o emprego de recursos para fins escusos
e o entesouramento avaro, esbanjam os recursos que amenizariam ou resolveriam
tais situações dolorosas. O pior, no entanto, é a desfaçatez que se verifica
por parte de certos indiví-duos e mesmo da sociedade. Alguns destes, investidos
de poder para guiar o destino de grupos ou de povos, vêm a público reconhecer
as dificuldades, a má situação em que seus irmãos se encontram, mas nada de
efetivo fazem para mudar o rumo das coisas. Discursos vazios! Ação nula!
Deveriam eles pensar que sendo apenas depositários do Senhor, no caso infiéis,
o futuro que os aguarda não será nada agradável. Malbaratando os recursos que
propiciariam as condições mínimas para uma existência decente que poderia ser
oferecida a todos esses desfavorecidos, falham duplamente: primeiro, usando
indevidamente os bens materiais, empréstimos do Pai e não propriedade absoluta
deles; em segundo lugar usando o poder que o Pai lhes conferiu em proveito
próprio e de alguns dos seus, sem se preocuparem com a massa de irmãos que
vivem em dificuldades e que eles deveriam atender, em virtude do mandato que
para isso receberam. Voltamos a advertir: no futuro se fará justiça. Da mesma
forma que se execram as lutas armadas, os conflitos, etc., e nada se faz para
solucioná-los – às vezes até mesmo alimentando-os – o homem ainda não
incorporou os ensinamentos básicos passados por Jesus. Se os tivesse entendido
estaria agindo de outra maneira, estaria procurando fazer com que todos
tivessem as mínimas condições de participar da caminhada evolutiva que o Pai
nos proporcionou e continua a nos proporcionar. É chegada a hora de começarmos
a valorizar os ensinamentos do Mestre. Ao entrarmos no terceiro milênio
tenhamos em mente que o mais precioso bem que nos poderia ser legado já o foi.
É o grande tesouro que Jesus nos ofertou, estando ao alcance de todos: o
Evangelho, roteiro de vida, indicador de nossas atitudes, que está aí para
servir-nos de constante amparo. Lembremos que: "Ninguém tem o direito, em
caso algum, de atentar contra a vida de seus semelhantes: é um crime aos olhos
de Deus, que vos traçou a linha de conduta que tendes a seguir." (3)
Adolfo, bispo de Argel, já dizia que
"a clemência é irmã do poder (...)."(4) Só quando conseguirmos
extirpar para sempre do mundo o sentimento de animosidade e da discórdia e
acabarmos, assim, com a guerra, iremos mudar as características do nosso
planeta, caminhando para o seu real objetivo: transformar--se em um planeta de
regeneração. Alimentemos com Jesus o nosso espírito e teremos com seu
Evangelho, além do refrigério, o nosso guia. Quem o conhece, quem o segue, quem
o procura possui tudo o que precisa. Usemo-lo e estaremos dando seguros passos
na necessária caminhada que temos que realizar para que um dia possamos
alcançar a senda que nos conduzirá à perfeição a que nos destinou o Pai.
Referências Bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, O Duelo. 116. ed., Rio de Janeiro: FEB. 1999, item 15, p. 210.
2. Op. cit., item 13, p. 208.
3. Op. cit., item 11, p. 205.
4. Idem, ibidem.
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