A antropologia filosófica é a antropologia encarada metafisicamente; é  antes aquela parte da filosofia que investiga a estrutura essencial do  homem; contudo, este ocupa o centro da especulação filosófica, na medida  em que tudo se deduz a partir dele, na medida em que ele torna  acessíveis as realidades, que o transcendem, nos modos de seu existir  relacionados com essas realidades. Ou seja, a antropologia filosófica é  uma antropologia da essência e não das características humanas. Ela se  distingue da antropologia mítica, poética, teológica, e científico  natural ou evolucionista por dar uma interpretação basicamente  ontológica do homem. É também uma disciplina filosófica ou movimento  filosófico que tem relações com as intenções e os trabalhos de Scheler,  mas não está unido ao conteúdo específico desse autor.
“A reflexão sobre nós próprios, reflexão sempre renovada que o homem faz para chegar a compreender-se” Bernar Groethuysen
“Explicação conceitual da idéia do homem a partir da concepção que este tem de si mesmo em determinada fase de sua existência.” Landsberg
“A reflexão sobre nós próprios, reflexão sempre renovada que o homem faz para chegar a compreender-se” Bernar Groethuysen
“Explicação conceitual da idéia do homem a partir da concepção que este tem de si mesmo em determinada fase de sua existência.” Landsberg
O que você  responderia à pergunta "O que é o homem?" Ou seja, "O que somos, eu,  você, todos nós? Para começar adianto que estas são questões  fundamentais da Filosofia e da Antropologia Filosófica. Mas por onde  começar a respondê-las? Iniciemos o nosso caminho na tentativa de  formularmos, em conjunto, uma resposta adequada ao nosso tempo à questão  principal da Antropologia Filosófica, criando um conceito mais próximo  daquilo que o mundo que nos rodeia nos propicia.
 Podemos dizer que de todas as questões o problema que se encontra por  trás de todos os outros é o da determinação do que seria o homem, qual é  o lugar ocupado por ele na natureza, qual a sua relação com o cosmo,  sua função no mundo e seu destino. Daí as perguntas: de onde viemos?  Para onde vamos? Que poder temos sobre a natureza? Que poder a natureza  tem sobre nós? Qual é o sentido da nossa existência? Essas são perguntas  que ao longo da vida nos fazemos, mas que não são fáceis de serem  respondidas porque não são próprias ao mundo da técnica, da  produtividade, da mídia e do consumismo que nos cerca. Essas questões se  referem à filosofia, ao exercício do pensamento, a um tipo de  conhecimento importante, porém muito pouco relevante para a maioria das  pessoas.
 O problema do homem foi abordado, direta ou indiretamente por todos  os filósofos comprometidos com o pensamento. Nesse sentido, Nicola  Abbagnano afirma:
  Pode especular-se sobre o Mundo, sobre o Ser, sobre a Verdade ou  sobre a Justiça, podem fazer-se análises minuciosas dos procedimentos  cognitivos e das ciências de que o homem dispõe, pode tentar-se  determinar o que é o Bem absoluto ou o Mal absoluto, construir teorias  monumentais e audaciosas visando a responder a todos os problemas do  mundo, mas em todos os casos o único destinatário de todas essas  especulações é o homem, que nelas procura algumas luzes que o passam a  orientar na sua vida. ( Nomes e temas da filosofia contemporânea.  p.9-11)
  Toda filosofia autêntica tem no homem o destinatário último de suas  questões e entende ser ele um de seus principais objetos de estudo.  Pois, é de nós, seres humanos, que emana a transformação do mundo à  nossa volta. Nós recebemos as conseqüências positivas e negativas da  nossa atuação no mundo, isto é, todas as benesses e mazelas de nossos  próprios atos. 
 Levando em conta nossa forma de estar e atuar sobre o mundo, nossas  necessidades e criações, em Antropologia Filosófica nos interessa a  busca da compreensão dos seguintes elementos: o universo simbólico  humano, o mito, a espiritualidade e a religiosidade como formas  específicas do homem se localizar no mundo; as produções técnicas,  estéticas e artísticas como maneira de expressão e realização interna e  externa da vida humana; a vida cultural e todo o universo das ideologias  que constrói as culturas de massa e nos envolve num mundo de consumismo  exacerbado e de indiferença ao que verdadeiramente importa em termos  culturais; interessa-nos também as produções científicas e as questões  éticas, morais e valorativas que envolve essas produções, sobretudo na  área das ciência biológicas; a política e os problemas sociais que  enfrentamos atualmente como a violência, as guerras e as drogas; a  liberdade humana, as leis e as normas com todas as determinações e  necessidades que as cercam; os aspectos positivos e negativos da  revolução tecnológica contemporânea, no que diz respeito ao meio  ambiente e à saúde desse meio, em que se inclui o próprio homem; enfim,  interessa-nos o mundo do trabalho, a exigência de qualificação e os  retornos econômicos e pessoais que temos em nossas profissões.
 Todas essas questões envolvem as diversas dimensões de que se  constitui o homem em sua racionalidade, passionalidade, condição  metafísica, psicológica, técnico-produtiva e espiritual. Não podemos nos  esquecer do fato do "homem não ser racional no mesmo sentido em que o  quadrado tem quatro lados e o triângulo, três"; de que ele é livre para  pensar e agir à sua maneira e que "esta liberdade é a capacidade que ele  possui de escolher o seu caminho e de projetar de um ou de outro modo a  sua vida [...]". (Nicola Abagnanno, p. 11) Seu aspecto livre pode, por  conseguinte, apontar tanto para liberdade como para diversas formas de  escravidão. Contemporaneamente, a Antropologia Filosófica atenta para o  fato de que é necessário compreender melhor o homem "não tanto o homem  em geral, na sua natureza e na sua essência imutável semelhante à de uma  entidade matemática, mas o homem concreto, esse que cada um de nós  sente viver em si próprio e descobre nos outros". (Ibidem)
 Reafirmando Sócrates conhecer-se a si mesmo é o primeiro tema que  envolve o homem na história da filosofia e também o tema de toda a  antropologia filosófica. A reflexão sobre si, exige uma análise sempre  renovada dos aspectos da nossa vida cotidiana e do conhecimento em  termos científicos. Por isso não basta identificarmos os problemas no  nível do senso comum, é preciso aprofundá-los no nível científico da  pesquisa e do pensamento, bem como na forma especificamente curiosa e  questionadora que a filosofia nos possibilita. É preciso, portanto,  ultrapassar o simples nível da experiência pessoal e procurar o sentido  das coisas em conceitos mais elaborados a fim de alcançar uma visão de  conjunto da vida humana e dar-lhe a unidade e a profundidade necessária  em meio à infinita multiplicidade das coisas. É preciso que nos  esforcemos para que consigamos agrupar os acontecimentos de maneira a  ter uma visão crítica sobre a realidade, para além do tecnicismo que  engessa as nossas mentes. É preciso que tenhamos a coragem de criar nós  mesmos os nossos próprios conceitos, na condição de seres autônomos e  reflexivos. 
 Para a Antropologia Filosófica de que vamos tratar interessa muito  mais do que simplesmente uma filosofia da vida, conversas ou observações  ocasionais. Isso não significa, no entanto, que tenhamos que nos  restringir à meras conceituações teóricas, o mais importante é o  questionamento, a pesquisa, a capacidade de criar e expressar conceitos,  o posicionamento crítico aprofundado e defensável, o rompimentocom as  ideologias massificantes do dia-a-dia; a compreensão dos aspectos  individuais e coletivos que determinam aquilo que somos e a nossa forma  de estar no mundo.
 Tomar o homem dialeticamente, isso é o que exige a Antropologia  Filosófica. Nesse intento, é primordial não tanto um método, mas as  questões colocadas; não tanto as respostas, mas a maneira de  respondê-las. Veremos que as respostas nem sempre são as mesmas e que  podem ser conduzidas em diferentes direções, visto que existem múltiplas  tendências e disposições do homem em seu "ser plural": personalidade,  sociedade, cultura, psiquismo, espiritualidade etc. Essa multiplicidade  prova a complexidade da condição humana, que não se revela em uma única  dimensão e que se mostra um terreno de aprofundamento árido e ao mesmo  tempo instigante.
 Em termos de História da Filosofia, o estudo do homem pelo homem,  isto é, o conhecimento de si mesmo pode ser considerado a mais alta meta  da investigação filosófica. Mesmo os mais céticos, não podem negar a  importância e a necessidade da busca do autoconhecimento.
 Faz parte da condição humana a interrogação sobre o seu passado,  presente e futuro em diversas dimensões. A antropologia adquire um  caráter filosófico quando busca compreender as diversas faces que  compõem aquilo que é humano: o ser biológico do homem (sua estrutura  física); as condições internas, subjetivas, a organização da  personalidade e o inconsciente (o psíquico); a produção cultural nas  diversas sociedades (a cultura); a construção e a formação do espaço  político (a política); as relações sociais e os valores (a sociedade); a  realidade transcendente, metafísica ou religiosa (a espiritualidade);  etc. Por esses caminhos a antropologia filosófica reforça o seu objeto  de estudo - o homem - em sua condição de um ser plural.
 No desenrolar histórico, o estudo do homem passou de uma visão  cosmocêntrica na antigüidade, para uma visão teocêntrica no mundo  medieval, até chegar à perspectiva antropocêntrica nos mundos moderno e  contemporâneo.
 Na Filosofia Grega Antiga o homem, sua vida no Estado e seus valores  surgem como problemas principais. Sócrates defende a tese do "conhece-te  a ti mesmo". Para Platão "o corpo é o cárcere da alma"; já Aristóteles  concebe o homem como "um animal político por natureza. O homem é enfim,  visto como um ser dual, constituído de corpo e alma. A alma é a  instância superior, pela qual pode elevar a sua condição à de um ser  racional e criar elementos para uma verdadeira felicidade. O  conhecimento puro e do intelecto representa a saída da ignorância. 
 Na Filosofia Cristã-Medieval a reflexão sobre o homem ganha um  caráter teocêntrico, em que Deus é considerado o ser de onde e para onde  tudo converge. Destaca-se uma forte dicotomia entre corpo e alma, a  redução da superioridade humana à alma e a submissão do poder da razão à  fé.
 Nas épocas Moderna e Contemporânea, junto com uma nova cosmologia,  surge um novo espírito científico na busca pela questão do homem. Com  base no sistema copernicano institui-se um novo lugar para o homem  cosmo: ele agora se encontra num espaço infinito e no centro do  universo. Doravante todo conhecimento se dará pela razão e tudo que não  venha por meio dela está sujeito à dúvida. O homem descobre a capacidade  infinita de sua razão e do seu intelecto, mas essa infinitude não  representa a negação nem limitação do conhecimento, ao contrário,  demonstra a incomensurável e inesgotável capacidade humana de conhecer.
 A partir do século XIX surgem novos conceitos matemáticos e emerge o  pensamento biológico. Coma teoria da evolução Darwin rompe com as  ilusões das causa finais, mostrando que não há espécies separadas e sim  uma contínua e ininterrupta corrente de vida. A vida humana passa,  então, a ser vista com um olhar diferente. Não há mais um único centro  de foco. Tudo isso provoca a queda da autoridade anteriormente  estabelecida, fazendo surgir vários campos de estudos sobre o homem que  descrevem sua imensa complexidade. Marx, por exemplo, dá prioridade ao  Homem Econômico (as relações sociais e econômicas); Freud destaca o  Homem Instintivo e impulsivo (os instintos sexuais) e Kierkegard alerta  para o Homem Angustiado, isto é, para a angústia da nossa existência.
 Esse percurso histórico mostra que o homem não pode ser visto por um  único ângulo. Não podemos assumi-lo apenas como um mero produto da  matéria ou como um ser totalmente compreensível pela ciência. Por outro  lado, não podemos aceitar a dimensão metafísico-transcendente como a  única capaz de explicá-lo. O homem é um ser de diversas dimensões e  quando mais faz história mais demonstra sua complexidade. Ao examinarmos  com olhar contemporâneo talvez pudéssemos dar razão à Martin Heidegger  esteja quando diz:
  Nenhuma época teve noções tão variadas e numerosas sobre o homem como  a atual. Nenhuma época conseguiu, como a nossa, apresentar o seu  conhecimento acerca do homem de um modo tão eficaz e fascinante, nem  comunicá-lo de um modo tão fácil e rápido. Mas também é verdade que  nenhuma época soube menos que a nossa o que é o homem. Nunca o homem  assumiu um aspecto tão problemático como atualmente.

 
A mais fascinante das questões é a que nos diz que o pensamento surgiu,um dia, na "mente" do homem.Antes, ele vivia "colado" ao SER,por assim dizer.Com o pensamento,formou-se a linguagem e, consequentemente, o ego. Se é assim, toda a Humanidade está contida em tal condição:Eu, você e os bilhões por aí.
ResponderExcluirOlá! Felicito-vos pela iniciativa, de centrar conteúdos nessas direções...
ResponderExcluirA leitura aclara as ideias e fomenta o agir...
o brazete não me ajuda...
ResponderExcluir⬆ ⬆ ⬆ ⬆ ⬆ ⬆ - MARIO DUARTE
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