quarta-feira, 11 de julho de 2012

A Uniformidade é Burra




Por Luiz Leite
A uniformidade é burra. O mundo seria muitíssimo monótono se conseguíssemos colocar um cabresto nas pessoas e forçá-las a se comportarem à nossa maneira, conformando-se aos nossos gostos. Pode parecer um clichê apenas, mas é necessário que se repita, a unidade na diversidade permanece sendo um enorme desafio.
Conviver num ambiente de teologias múltiplas, de filosofias múltiplas, sempre foi desafiador. A intolerância, a incapacidade de suportar o diferente, sempre foi o motivo precipitador de muitas tragédias na história da humanidade. Homens e nações inteiras se engalfinharam em conflitos mortais simplesmente por labutarem em campos diferentes de idéias e crenças. As páginas da história estão repletas de testemunhos a esse respeito; campos ficaram encharcados de sangue em razão das disputas alimentadas pelo afã ensandecido de impor sobre o outro os seus próprios termos.
Para não citar os horrores do nazismo, tão abundantemente divulgados, passam despercebidos e muitas vezes caem no esquecimento, casos como a chamada noite de São Bartolomeu (24 de agosto de 1572), noite em que, por ordem de Catarina de Médici, rainha católica da França, as ruas de Paris ficaram ensopadas com o sangue de protestantes franceses, assassinados em massa. Cerca de 30 mil pessoas perderam suas vidas por causa da implacável intolerância católica aos huguenotes, designação comum aos protestantes Franceses.
É fácil concluir, quando refletimos sobre tais coisas, que o homem é um ser em conflito. Sua relação é, consigo, com o próximo, com o Criador, uma relação, sobretudo, conflituosa. Esse desalinho observado em sua essência é a fonte de onde se originam todas as suas neuroses, esquizofrenias, psicoses e demais patologias determinantes dos comportamentos ora confusos, ora bizarros que conduzem o ser humano em sua marcha pelo tempo.
Não temos o direito de obrigar os outros a se conformarem à nossa maneira de ser; mesmo que não concordemos com o diferente, temos que tolerá-lo, ainda que chegue às raias daquilo que consideramos como ultraje. Podemos sem dúvida pregar a nossa mensagem, mesmo porque esse é um direito conquistado, mas impô-la jamais. Toda e qualquer movimentação nessa direção poderá ser tida como doentia.
É certo, entretanto, que todo grupo étnico, social ou religioso tem as suas próprias regras e a vida em sociedade nesse grupo só se faz possível mediante a observação dessas regras. Assim, a não submissão às regras vão conduzir à ejeção do individuo do mesmo. A sinagoga amaldiçoa e expulsa da comunidade o herege; a Igreja o excomunga, persegue e manda para o calabouço ou para as chamas; a família o deserda; a sociedade o execra, e por aí vai. A regra é inflexível. Exige que sejamos iguais, que leiamos todos na mesma cartilha, que nos deixemos amoldar aos códigos sociais. Na verdade essa regra é a garantia de manutenção do sistema, qualquer que seja ele.
Pergunta Erasmo de Roterdam (c. 1466-1536) em sua obra Elogio à Loucura:
“Que força pode obrigar os homens, naturalmente duros, selvagens e rústicos, a se agruparem em cidades, para viver em sociedade? A adulação.”

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