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sexta-feira, 30 de setembro de 2011
A Psicologia do Ascetismo Religioso e da Expurgação
O ascetismo que as religiões exigem de seus partidários acontece também porque o ser humano ama algo em si, um pensamento, um desejo, um produto, mais do que outra coisa em si, que, portanto, ele dilacera sua própria natureza e sacrifica uma parte dela pela outra. Toda a moral do sermão da montanha ensinado por Ieshua (Jesus) se resume no seguinte: o ser humano tem verdadeiro prazer em violentar-se com exigências exageradas, e depois endeusam sua alma com esse “Algo Tirânico” e exigente. Em todo ascetismo religioso, o ser humano reza para uma parte de si mesmo como um Deus (supondo que há o “Espírito de Deus” dentro de seus corpos), e por isso necessariamente eles têm de demonizar a outra parte de si mesmos.
O Método mais usual que o ascético religioso, (não importa a que religião, seita, facção pertençam) o meio para tornar tudo mais suportável e interessante consiste numa guerra e na alternância de vitória e da derrota. Eles constroem o adversário, o inventam, e o chamam de “inimigo interior”. A imaginação de muitos desses ascéticos religiosos era obscena até um ponto invulgar: em virtude dessa teoria, segundo a qual os apetites ou concupiscências do corpo seriam verdadeiros “demônios” que poderiam se desenfrear dentro deles.
Era do interesse deles que essa luta (“a carne contra o espírito”) fosse sempre mantida num certo grau de intensidade. Mas, para que a luta parecesse ter sempre suficiente importância, a fim de suscitar nos não-convertidos um interesse e uma admiração permanentes, era necessário que a sensualidade fosse declarada herética e fosse sufocada; alem disso, que o perigo da condenação ao fogo eterno fosse estreitamente ligado a essas coisas que, muito provavelmente, durante milênios e séculos inteiros os cristãos geraram filhos encharcados de, e com muitos remorsos: imaginem os danos que tudo isso causou a humanidade?
Nossa sociedade atual encontra-se enferma em todos os sentidos, em todos os pontos. Os pessimistas ascéticos, sejam cristão ou de outra denominação, tinham interesse que outra opinião fosse dominante: precisavam, para povoar a solidão e o deserto espiritual de suas vidas, de um inimigo sempre vivo e universalmente conhecido a fim de que, ao combatê-lo e subjugá-lo, eles se apresentassem aos não-convertidos como seres incompreensíveis, sobrenaturais.
Esse tipo de psicologia, que ainda existe até hoje nas igrejas e até de forma sutil no comportamento de muitas pessoas, servia não só para suspeitar de tudo o que humano, mas também para caluniá-lo, flagelá-lo, crucificá-lo; o homem queria ver-se tão perverso e mau quanto possível (assim como a bíblia quer refletir tal imagem aos olhos de quem a lê), procurava ter medo pela salvação da alma, desesperança diante de sua própria força suprimida. Todo elemento natural, ao qual o homem associa à idéia do pecado, do mal, importuna e obnubila a imaginação, o intelecto, lança um olhar feroz contra si, compele o homem a brigar consigo mesmo e torna-o inseguro e desconfiado de si, e da vida; mesmo seus sonhos se impregnam de um gosto amargo e consciência atormentada.
GILLIRD ALVES RODRIGUES
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