sábado, 7 de abril de 2012

Saúde, Religião e Espiritualidade


“Nem tudo que pode ser mensurado é importante assim como nem tudo que é importante pode ser mensurado” (Albert Einstein).
Qual o papel da religiosidade na vida das pessoas ? E da espirtiualidade ? Juntamente com a política e o futebol, a religião forma a santíssima trindade dos assuntos tabu, aqueles que não devem ser dicutidos em nossa cultura, sob pena de entrarmos em richas, brigas e por aí vai.
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A espiritualidade sempre foi considerada por muita gente como não passível de ser discutida no que diz respeito à ciência. Aliás, muitos cientistas como o inglês Richard Dawkins, consideram a religião uma ilusão. Para ele, ciência e religião não se misturam. Mas esta não é a discussão de hoje. Deixe-me fazer uma pergunta:

Você, leitor, é uma pessoa espiritualizada ?

Evidências científicas apontam que pessoas que desenvolvem práticas espirituais e/ou religiosas apresentam melhores níveis de saúde e consequentemente uma qualidade de vida superior. É importante apontar que as pesquisas que buscam por dados sobre a influência da espiritualidade na saúde não são novidade, sendo conduzidas no mundo inteiro nos últimos 20 anos ou mais. Encontra-se material interessante em uma busca simples, utilizando os termos “Espiritualidade + Saúde” no Scielo ou  “Spirituality + Health” no PubMed ou mesmo no father Google.

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Estudar a relação entre saúde e espiritualidade não exige que se assuma a crença em Deus ou numa divindade suprema. Especialmente para o profissional de saúde, é importante saber quão  intenso é o impacto das crenças espirituais ou religiosas de uma pessoa e como isso vai influenciar a sua saúde ou a evolução de um quadro patológico, se ela estiver passando por um processo de recuperação (MOREIRA e cols.,2006).
Religião e Saúde estiveram interligados durante séculos. Na idade média, os Cavaleiros Hospitalários, monges guerreiros que comandavam os hospitais em Jerusalém na época das Cruzadas, realizavam as tarefas de um profissional que hoje conhecemos como médico. Instituições mantidas pelo clero eram comuns naquela época, fazendo a dissociação entre fé e cura praticamante impossível. No entanto, aqueles que sofriam de transtornos mentais frequentemente eram tratados como possuídos por forças e espíritos malévolos. No século XV, com a publicação da obra Malleus Maleficarum, estabelecendo as diretrizes e procedimentos para o manejo dos que estivessem “dominados por forças do mal”, milhares de inocentes foram queimados em fogueiras ou decaptados (KOENIG e cols, 2001).
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Esta forma violenta de cuidar daqueles que sofriam de doenças mentais marcou profundamente as relações entre religião e saúde ao ponto de, já no século XIX, os profissionais de saúde mental considerassem sua influência como nociva. Freud (1997) era um grande crítico da influência da religião, considerando as idéias religiosas como criações humanas oriundas da necessidade de defesa contra a força esmagadoramente superior da natureza (…) são produtos do desejo do homem. As idéias de Freud contribuiram para reforçar uma idéia que já era difundida no final do século XIX, de que a religião era um estado social primitivo (MOREIRA e cols.,2006). Poucos foram aqueles que tentaram compreender a função psicológica da religião e da espiritualidade, reconhecendo que ambas têm papel importante na vida do homem, fazendo parte de um todo muito maior. Um dos pioneiros da exploração deste campo no século XX foi Jung (1978).


Religião, Espiritualidade, Religiosidade… são tudo a mesma coisa, certo ? Ahmmm, NÃO ! Não são. Algumas definições:
 
  • ESPIRITUALIDADE: Compreende elementos não mensuráveis, relacionados ao senso de realidade, significado transcendental, seu lugar e propósito no universo. Todos possuem, mesmo que seja nomeada ou definida de forma diferente.
  • RELIGIÃO: Expressão particular de crenças espirituais que envolvem códigos de ética, doutrinas, dogmas, metáforas e mitos. É uma maneira de perceber o mundo.
  • RELIGIOSIDADE: Nível de envolvimento em uma prática religiosa.
Pensemos a espiritualidade como um destino. A religião seria uma das estradas para este destino. Já a religiosidade seria a intensidade e o grau de compromisso que uma pessoa tem de assumir para  utilizar a mesma estrada rumo ao destino (RABOW, 2008).
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E o que a ciência diz sobre isso ? Apesar de não serem 100% conclusivos, os estudos indicam que pessoas que praticam uma religião ou realizam práticas espirituais têm menos chances de adoecer, inclusive com relação aos quadros de transtorno mental. Entre aqueles que se encontram debilitados e/ou internados nos hospitais, os que são religiosos ou espiritualizados têm maior probabilidade de respeitar as orientações dos profissionais de saúde e, por consequência, recuperam-se com maior facilidade de suas enfermidades. Filhos criados em famílias com forte influência religiosa têm menores chances de se envolver em atos anti-sociais, consumo de drogas e demais delitos. Lembram daquela idéia de “corpo como lugar sagrado” ? Pois é, é bem por aí. No artigo de autoria de MOREIRA e colaboradores que cito nas referências existem mais dados sobre as pesquisas que estão sendo feitas tanto no Brasil como nos EUA.

“Fábio, eu não tenho religião ! Como posso ser espiritualizado ?”


Ok, mas até um ateu pode ter um sentido na vida. Se a sua meta for trabalhar, construir uma carreira, constituir uma família feliz, envelhecer com saúde e  no final apenas descansar os ossos num cantinho onde seus descendentes possam prestar homenagens, isso já seria um  sentido ao menos razoável para a vida, não ? Penso serem a essas questões que a espiritualidade vem oferecer algumas respostas e orientações.

Para saber mais:
FREUD, Sigmund. Volume XXI: Futuro de uma ilusão. Texto original: 1927. In: FREUD, Sigmund. Edição Eletrônica Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Versão 1.0.0.26. [S.I.]: Imago Editora, 1997. 1 CD-ROM.


JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Religião. Tradução: Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha, OSB. 2º. ed. Petrópolis: Vozes. 1978.


KOENIG, Harold George; McCULLOUGH, Michael E. ; LARSON, David B. Handbook of Religion and Health. New York: Oxford University Press. 2001. 712p.


MOREIRA-ALMEIDA, Alexander; LOTUFO NETO, Francisco; KOENIG, Harold G. Religiousness and Mental Health: A review. Revista Brasileira de Psiquiatria. [online] São Paulo, v.28, n.3, set.2006.
RABOW, Mark. Spirituality and Health: What does the medical literature say ?. 2008.  Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=A0ucsxP0vUk

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