segunda-feira, 9 de abril de 2012

Um mundo sem religiões


                
SEI QUE PARECE ESQUISITO, mas recentemente eu venho pensando nessa possibilidade. Sei também que muitos poderão achar que pensar desta forma é jogar na defesa e fazer gol contra. No entanto depois de algumas reflexões é possível que você também venha a pensar como eu. 
Recentemente me encantei com a leitura do livro Religião e Repressão do teólogo brasileiro Rubem Alves. Confesso que algumas afirmações ali contidas me marcaram profundamente e me fizeram re-pensar algumas verdades que me negava a admitir.
            Quero compartilhar com você algumas dessas conclusões contidas, nesse texto e desafiar você a refletir sobre elas:
Assegura Alves:
“Deus dá nostalgia pelo vôo.
As religiões constroem gaiolas.
Quando o vôo se transforma em gaiolas, isso é idolatria”.
Não pude deixar também de pensar nas palavras de Jesus: “Em vão me adoram ensinado doutrinas que são preceitos de homens” (Mc. 7.7) O que será que ele estava criticando naquele momento? Como reconhecer uma “doutrina” que seja ou não “preceito humano”, Sabemos, porém que a vocação das religiões é construir e preservar. doutrinas
            Diante dessas inquietações, comecei a pensar na possibilidade de um mundo sem religiões.
Obviamente que não estou levantando dúvida sobre a validade da religião como fenômeno, como manifestação de uma espiritualidade sadia. No entanto, não posso negar que as religiões enquanto instituições se transformaram em gaiolas que buscam prender o pássaro da espiritualidade proclamando ainda que ele só pode ser encontrado dentro delas.
Verdade é que a religião tem vocação natural para a proibição, para construir e preservar os tabus, dentro dela não existe lugar para a liberdade e para o vôo. “Prisioneiro, dize-me quem foi que fez essa inquebrantável corrente que te prende? “(pergunta Tagore) Fui eu disse o prisioneiro fui eu que forjei com cuidado esta corrente”.
Toda vez que o “pássaro” se nega a cantar dentro da gaiola e começa a cantar de forma diferente, que o prisioneiro resolve quebrar as correntes, é logo acusado de rebeldia e rotulado de herege, afinal pássaro bom é pássaro adestrado.
            Sempre pensei a religião como algo libertador, mas quando olho os sistemas religiosos que atualmente se multiplicam no mundo, suas múltiplas regras normas e proibições, fico a pensar se às vezes esta pretensa liberdade não se traduz em prisão.
            Em “Os irmãos Karamázovi”, no relato sobre o Grande Inquisidor, Dostoiévski escreveu: “Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível”. As correntes, algemas e grilhões forjados pela religião impedem que a experiência religiosa se torne um vôo nostálgico e se transforme em uma caminhada penosa. Deixe de ser a manifestação prazerosa da experiência com o sagrado e se torne a cega observância de regras, normas, dogmas e doutrinas, ou seja: a religião passa a escravizar o homem, alimentando-o com a ilusão de que é melhor a segurança da gaiola que a incerteza da liberdade.
Na verdade, as religiões acreditam ter o monopólio da experiência religiosa, de forma que a única forma de liberdade possível é dentro das gaiolas da religião. Nas palavras de Rubem Alves: “As religiões são instituições que pretendem haver colocado numa gaiola o pássaro encantado”
            Fiquei pensando: Como seria um mundo sem religião? Sem gaiolas nem correntes! Sei muito bem que o mundo não se transformaria em um utópico Éden na terra, porém vislumbro algumas realidades que poderiam mudar.
Creio que um mundo sem religiões, nos proporcionaria a superação do DOGMATISMO, sabemos que a religião se funda no dogma, na certeza ainda que irracional de que determinada verdade não comporta questionamentos, o dogma representa a mordaça da liberdade religiosa, ela mata a liberdade de consciência, e impede o desvelar de novas compreensões sobre o fenômeno religioso.
Além disso, um mundo sem religiões nos conduziriam pelo caminho para vencer a INTOLERÂNCIA religiosa. Sei muito bem que a religião não é a única responsável pelas manifestações de intolerância na sociedade. Não se pode negar, porém que ela ainda representa o principal foco, as pessoas são inflexíveis e impiedosas na defesa das suas convicções religiosas, talvez motivado por uma intenção sincera, os resultados, porém não precisamos citar aqui, a história é testemunha de que em nome de Deus e em defesa das religiões, muito sangue foi derramado, muita lágrima vertida e a dor semeada em abundância.
Acredito ainda que um mundo destituído das religiões enfim nos proporcionasse o fim dos movimentos FUNDAMENTALISTAS religiosos, a exemplo do Taliban, dos Xiitas, Ku Klux Klan, que serviu para garantir o domínio dos protestantes brancos sobre negros, católicos, judeus e asiáticos dos Estados Unidos.
Creio que um mundo sem religiões nos pouparia do radicalismo e do Legalismo que caracteriza o fanatismo religioso capazes de tudo na defesa intransigente da fé.
Talvez tenha sido pensando assim que o teólogo contemporâneo Dietrich Bonhoeffer idealizou um “Cristianismo sem religião” e Karl Barth a falar do “caráter diabólico da religião”
            Penso que um mundo sem religiões, porém, com fraternidade, sem instituições religiosas, porém sensível aos reais problemas que afligem a humanidade, que proporcionasse aos homens uma convivência pacífica e respeitosa, talvez seja um sonho, uma utopia. Más acredite: Eu trocaria todas as religiões do planeta por um mundo assim.
 
Neilton Azevedo 
Mestrando em Ciência das Reigiões.

Um comentário:

  1. Agradeço terem postado meu texto, saber que de alguma forma ele despertou o interesse de vocês muito me acrescenta. Convido-os a visitar meu blog onde posto minhas idéias. sagradofilosofico.blogspot.com. Um grande abraço e muito obrigado.

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