Uma das questões básicas, segundo os cientistas, é justamente definir
o que se considera inteligência. Embora a definição simplista de
“capacidade de aprender” predomine, há quem diga que é necessário mais;
um ser inteligente deve aprender, fazer relações e tirar conclusões,
analisar ideias complexas e resolver problemas. A faceta prática dessas
ideias é o que se chama “tecnologia”: aplicar as ideias materialmente.
Logo, segundo essa definição, achar vida inteligente fora do planeta
significa encontrar seres que possuam e apliquem tecnologia.
Um conceito psicológico de inteligência, segundo pesquisadores da
Universidade de Oxford, é mais “humanizado”. Não se trata apenas de
saber produzir tecnologia, porque é preciso mais do que um cérebro para
isso. Os golfinhos, por exemplo, podem ser considerados inteligentes,
mas não podem produzir tecnologia porque não têm braços para isso (em
uma definição mais prosaica, não têm o polegar opositor).
Alguns animais, e os golfinhos são o exemplo mais recorrente, têm
exatamente o que a Universidade de Oxford define como inteligência. Para
eles, um ser inteligente reúne três condições básicas: ideia de
altruísmo (basicamente, reciprocidade nas atitudes, noções de causa e
efeito na relação com seus semelhantes), “política” (noções de
agrupamentos, divisões e lideranças) e empatia (a grosso modo,
capacidade de ter e interpretar emoções, a sua e dos demais). Em
sociedades no reino animal, tais habilidades são frequentemente
demonstradas.
O que chama atenção dos pesquisadores quanto a golfinhos, no quesito
inteligência, é a comunicação. Testes no passado já comprovaram que
golfinhos são capazes de compreender e interpretar cerca de 50 comandos
dados em inglês. Nós, humanos, por outro lado, não fazemos a mínima
ideia do que significa a “linguagem” de ondas com a qual os golfinhos se
localizam e se comunicam. Mas este conceito de linguagem também é
discutível, segundo os cientistas.
O que os pesquisadores esperam, portanto, é fazer uma ponte entre a
nossa comunicação e a dos golfinhos. De acordo com uma técnica aceita
pelo SETI, chamada de “teoria da informação”, toda comunicação pode ser
simplificada, visual ou auditivamente, a uma espécie de logaritmo de
bits (algo como a linguagem do 0 e 1) da computação.
No cérebro humano, segundo essa tese, há um padrão unificado que
permite o aprendizado de linguagens, e animais como o golfinho dispõem
exatamente do mesmo recurso. Assim como nós, eles têm a capacidade de
organizar informações soltas e fazê-las ter sentido para eles. Sabem
também aplicá-las segundo suas necessidades, que no caso dos golfinhos é
se comunicar à distância debaixo da água.
Como isso poderia ajudar a achar extraterrestres?
Essa teoria assume que humanos e golfinhos, no fundo, teriam um mesmo
padrão de comunicação, que apenas se manifesta de maneiras diferentes.
Assumindo isso como uma possibilidade, cientistas do Instituto
Tecnológico da Geórgia (EUA) estão se dedicando a uma missão inusitada:
construir um tradutor de “golfinhês” para uma linguagem conhecida pelos
humanos. Os primeiros testes reais com essa máquina, que já está em
desenvolvimento, são previstos para 2012.
A ideia, na teoria, é simples. Analisar ações e reações dos
golfinhos, gravando os sons que eles emitem, e tentar converter a
comunicação para um padrão mensurável por computador. O passo seguinte,
nessa tarefa, seria mensurar a linguagem humana sob estes moldes e
tentar unificar ambas as linguagens sob esse padrão (não se trata de
“humanizar” os golfinhos, apenas decodificar a linguagem).
O princípio básico da teoria, formulada pelo SETI, afirma que tal
habilidade de comunicação é o que caracteriza inteligência. Na busca por
vida inteligente fora da Terra, seria possível usar esse padrão para
rastrear vestígios de comunicação universo afora. É claro que isso
depende de muitas variáveis, mas os cientistas imaginam algo como um
sensor colossal que capte sinais de comunicação pela galáxia, como se
fosse uma antena de rádio.
O problema (antes mesmo de pensar em quão difícil será decodificar a
linguagem dos golfinhos através de um computador, transformar isso em um
código que sirva para tradução humana e construir um sensor que capte
essas transmissões no espaço), a princípio, é paradoxal.
Se o universo é realmente cheio de relações sociais e comunicações,
como no mundo dos golfinhos, mas tais formas de vida espaciais não podem
produzir tecnologia, como os golfinhos, estamos no escuro. As vidas
inteligentes podem estar por aí, espalhadas no espaço, mas não seremos
capazes de detectar. [LiveScience]
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