Muito pior do que estar na base da pirâmide é alcançar o topo para depois retornar à base. O tempo cria o hábito e o hábito de viver na pobreza torna a pobreza menos sofrível. Para quem só conhece o inferno e não sabe como é o céu o inferno não é tão ruim. O problema é quando a pessoa sai do inferno para ir ao céu e depois volta para o inferno. O sofrimento de quem não tinha coisa alguma, conquistou tudo e depois voltou a ficar na miséria é sempre maior do que o de quem sempre viveu na miséria e à ela está abraçado e acostumado. É por isso que toda elevação social deve ser aos poucos e de forma prudente, construindo seguramente cada degrau que se sobe. Esta elevação pode ser tanto a financeira como a de popularidade. Da mesma forma que sofre o pobre que enriquece e volta a ser pobre, sofre o anônimo que adquire fama e volta a ser anônimo. O aumento da efemeridade na Terra alavanca isto. As pessoas são levadas ao consumo voraz e instantâneo de tudo, leem manchetes e acham que entenderam o caso completo.
O homem sofre por violar, não compreender e não aceitar as leis cósmicas. A mudança é uma lei cósmica que castiga constantemente a humanidade. Pessoas que não aceitam que as coisas não sejam como foram e que insistem em reviver o passado apenas acorrentam-se mais ainda à Roda de Samsara, criando ilusões mentais que somente lhes trarão mais sofrimento e lhes aprisionarão à Terra. É o homem não se permitindo ser feliz em razão da teimosia em manter um hábito, não deixando que as coisas fluam naturalmente. Por mais que o homem só exista, tenha alcançado o topo da cadeia alimentar e tenha conquistado o globo todo por sua capacidade de adaptação ainda assim a conveniência do conforto lhe domina. Quem viveu como pobre e passou a viver como rico não quer mais perder o padrão de vida que adquiriu e se volta a ser pobre não consegue viver plenamente sua nova realidade e ser feliz, pois quer ter o que não faz mais parte da sua vida; quer o que já passou, não o que tem e ninguém é feliz sem amar o que tem, mesmo que tenha muito.
A fama para os espíritos atrasados é a mesma coisa. Quem alcançou o topo da mídia vai lutar para ali se manter e inclusive faz disso, o trabalho constante para se manter em evidência, o seu próprio sentido da vida. A pessoa passa a respirar a fama e acha que esse sistema é o motivo de sua existência. Quem nasceu na fama sente-se menos ameaçado e tem menos medo de perdê-la, por isso vive mais naturalmente neste meio e não pratica nenhuma bizarrice para ser notado. Já o anônimo que se tornou famoso, e gostou do negócio, ao voltar ao anonimato, pelo seu próprio fracasso e incompetência, vai fazer o que for possível para adquirir novamente a popularidade anteriormente conquistada. Quando o mundo psicologicamente acelerado, que consome tudo vorazmente como um diabo-da-tasmânia, fecha as portas para estas pessoas fracassadas elas vão atrás do que pode lhes trazer tudo isso novamente e o meio evangélico é uma oportunidade que encontram para reconquistar o que perderam.
Impossível negar a participação efetiva dos evangélicos na sociedade, principalmente nos meios de comunicação. Seja através dos vários templos espalhados pelo mundo, dos canais de televisão, das rádios, jornais, revistas e toda sorte de meios de comunicação, e que fazem parte da grande mídia, esta grande parcela da população possui um grande poder nas mãos, o que pode, também, ser notado através de sua representatividade nas cadeiras do poder executivo e do legislativo. O número de fiéis, realmente fiéis, aumenta cada vez mais. Em todo canto se vê católicos convertendo-se às denominações evangélicas, mas não se vê evangélicos convertendo-se, ou retornando, pois a maioria dos convertidos eram católicos, ao catolicismo. O modo como o evangélico trata seus rendimentos pessoais em relação à sua igreja e a sua convicção no que faz abriu os olhos de muitas empresas de marketing e propaganda, que tem lucrado consideravelmente com os contratos feitos com as igrejas evangélicas. Dinheiro é dinheiro.
As igrejas evangélicas usam televisão, rádio, outdoor, panfletos, revistas, jornais e todo meio de comunicação existente para os seus trabalhos e aí está um sistema onde circula muito dinheiro, mídia e poder. O cantor evangélico tem a facilidade de ter grande propaganda gratuita a seu favor. Enquanto outros cantores precisam gastar quantias exorbitantes para a promoção de seu trabalho, os cantores evangélicos têm a propaganda gratuita das inúmeras igrejas que executam suas canções nas reuniões e colocam à venda o seu material. Muitas vendas são convertidas em ofertas. O fiel "não paga" pelo cd, ele dá uma "oferta" e a igreja "dá" o cd "de brinde”. Os evangélicos vão religiosamente às reuniões e toda vez cantam no louvor a Cristo e a Deus a música do cantor evangélico. Assim a propaganda é feita, a música pega e eles compram o material deste cantor, vão em seu show e o acompanham na mídia. Com a justificativa de propagar a religião a mídia evangélica abre o espaço para o artista evangélico, por onde ele mantém sua fama e popularidade.
É preciso colocar um desgraçado para alcançar o sobrenatural, um rico para atrair ricos e um famoso para atrair famosos e tudo relacionado à fama. O famoso convertido, e agora novamente famoso pela mídia evangélica, continua fazendo o que antes fazia, só que "para Jesus", apenas alterando o público alvo. Quem cantava, agora “canta pra Jesus”, quem dançava, agora “dança pra Jesus”, quem rebolava, agora “rebola pra Jesus” e o rol de “agora é pra Jesus” é tão vasto quanto o número de denominações evangélicas. A conversão no momento do fracasso profissional, quando ninguém mais queria assistir o seu show, comprar seu cd, ouvir sua música, assistir seu filme e nenhuma empresa mais queria contratá-lo vem sempre em boa hora para o famoso derrotado e ele não vai dizer que se converteu porque tinha fracassado profissionalmente, não tinha mais mercado e precisava do meio evangélico para voltar a estar em evidência. Lembrando que tais pessoas sempre esperam passar o sucesso para se converter.
A mulher que aos 20 e poucos anos encantava o país ao rebolar em rede nacional de televisão não encantaria mais se fizesse o mesmo com 60, e nem teria espaço para isso, salvo os mercados alternativos; mas se virar crente vai aparecer em toda a mídia evangélica, que ressaltará o milagre de sua conversão, onde ela não precisará mais mostrar a bunda, mas a cara famosa. O mesmo para o ator que fez sucesso estrondoso em uma novela e perdeu mercado para outros atores melhores e agora não tem mais o que fazer na área, a cantora que gravadora alguma mais quer, o cantor de apenas um sucesso que não tem mais vida profissional no meio e tantas outras pessoas de tantos outros meios artísticos e profissionais. A propaganda é a alma do negócio, a religião se tornou um negócio e as igrejas investem pesado em propaganda. A conversão de um famoso é uma propaganda que quebra barreiras culturais aumentando o mercado consumidor do negócio-igreja, que já ultrapassa a marca dos milhões no Brasil.
Seria perda de tempo e dinheiro para a Igreja usar a televisão para falar da conversão do assalariado que meramente se converteu e está simplesmente feliz em ir à igreja com renda mensal de dois salários mínimos. Isso não atrairia ninguém e a Igreja, como qualquer negócio, precisa expandir e ao dizer que mais pessoas estão se convertendo é mais rentável citar um famoso do que um anônimo. Quanto mais membros, mais ofertas. Utilizando a conversão de um famoso derrotado junta-se a fome com a vontade de comer. A Igreja tem a sua propaganda e o famoso tem a satisfação do seu ego pela manutenção daquilo que criou como vida: a popularidade e a fama. A Igreja vai fazer as campanhas com cultos sensacionais com a presença do novo convertido famoso, outdoors com sua face, anunciar em rádios, os jovens evangélicos vão lotar os shows para ver o super astro do rock que agora canta pra Jesus, a igreja vai lotar para ver a cantora famosa dar seu testemunho e assim todos ganham; Igreja, famosos derrotados convertidos e membros.
Os evangélicos representam um mercado de milhões de consumidores do qual nenhum empreendedor se atreve a abdicar. O religioso não possui espírito crítico e consome tudo que lhe é oferecido, pois é doutrinado a entender que o importante é a mensagem. Desta forma o sucesso é garantido, o que já não ocorre fora do mercado evangélico, onde a crítica importa. A fama e o sucesso profissional são vistos como virtudes para as pessoas e com os evangélicos não é diferente. Famosos derrotados no mercado profissional encontram espaço no meio das igrejas evangélicas, que lhes recebem como celebridades que um dia foram. Quem do anonimato foi à fama e retornou ao anonimato por sua própria incompetência tem a chance de voltar à fama através dos meios evangélicos com todo o glamour, ou até mais, que tinha enquanto era “do mundo”. E os evangélicos, os mesmos que dizem que Deus não faz acepção de pessoas, mas que tratam celebridades como celebridades e anônimos como anônimos, ainda hão de entender que Deus não precisa de propaganda.
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