O PORTÃO DO CÉU! [Heaven´s Gate]
Este é um dos capítulos do livro “O umbigo de Adão” de Martin Gardner que narra acontecimentos verídicos das conseqüências do fanatismo religioso. Abaixo segue algumas transcrições:
“Em março de 1997, o choque do mundo em reação ao suicídio de 38 felizes inocentes que passaram por uma lavagem cerebral e seu líder ensandecido, no Rancho Santa Fé, Califórnia, teve dois desdobramentos. O evento voltou a despertar a consciência do público em relação ao imenso poder de gurus carismáticos sobre a mente de seguidores do culto, e chamou a atenção para a extensão em que o mito da nave espacial alienígena se tornou a ilusão dominante de nosso tempo. [...]
Quem teria sido o maior responsável pelos horrores do Rancho Santa Fé? Eram dois neuróticos, ocultistas que se auto-iludiam: Marshall Herff Applewhite e sua companheira platônica, Bonnie Lu Trousdale Nettles. A história deles é uma ficção científica de segunda.
Nascido em Spur, no Texas, em 1931, filho de um ministro prebisteriano, Applewhite se formou em filosofia no Austin College, em 1952. Passou rapidamente pelo seminário e pelo Serviço de Comunicações do Exército. Era sujeito de boa aparência e excelente voz de barítono; escolheu como carreira o canto e a música. Obteve o título de mestre em música na Universidade do Colorado, protagonizando inúmeras óperas produzidas em Houston e Boulder, enquanto cursava o mestrado. Durante toda a sua carreira musical, ensinou em diversos lugares e dirigiu muitos coros de igreja.
Nos anos 1960, Applewhite deu aulas de música na St.Thomas University, uma pequena escola católica em Houston. A universidade o despediu em 1970 porque ele teve um caso com um aluno. Lutando para controlar seus impulsos homossexuais; deprimido e escutando vozes, ele deu entrada num hospital psiquiátrico em 1971. Contou à sua irmã que havia sofrido um ataque do coração e tivera uma experiência de quase-morte.
Foi neste hospital que a vida de Applewhite deu uma virada fatal. Sua enfermeira, Bonnie Nettles (Veja o New York Times, 28 de abril de 1997) pertencera à Igreja Batista, depois mergulhou no ocultismo, teosofia, astrologia e reencarnação. De alguma forma, ela conseguiu convencer Applewhite de que os dois eram alienígenas de um nível superior de realidade que se haviam conhecido em outras encarnações na Terra. Nos meses e anos seguintes, os dois desenvolveriam sua estranha religião, acreditando que haviam sido enviados à Terra para advertir a humanidade de que a presente civilização estava a ponto de terminar conforme previsto na Revelação, e que seria substituída por uma outra depois da batalha do Armagedom e da eliminação de Lúcifer. Acreditavam que Lúcifer (um ou dois graus abaixo de Satã), auxiliado por seus “luciferianos”, há muito controlava nosso planeta. Os demônios de Lúcifer têm pilotado aquelas naves espaciais que estão abduzindo seres humanos.
Como se pode escapar do iminente holocausto? Não entrando em êxtase, como ensinam os fundamentalistas protestantes, mas sendo sugados por um raio de luz para dentro da espaçonave operado por superseres benignos e levados para os portões dos céus. (A julgar pela recente tragédia no Rancho Santa Fé, se você for homem, a melhor maneira de fazer esta viagem é cortar os seus testículos e depois se matar.) [...]
Applewhite e Bonnie começaram a se chamar de OS DOIS. Passaram a acreditar que eram as “duas testemunhas” descritas no capítulo 11 do Livro do Apocalipse. O verso 7 prevê que assim que “encerrarem seu testemunho”, as duas testemunhas serão assassinadas. Depois de três dias e meio, Deus os ressuscitará. Uma voz do céu dirá: “Venha aqui para cima”, e seus inimigos os verão sendo levados para os céus numa “nuvem”. [...]
Detalhes exatos sobre a história nômade do grupo permanecem obscuros. Do convenceu suas ovelhas de que elas também eram alienígenas do Próximo Nível, agora encarnados em um corpo a que chamavam de recipiente, veículo, instrumento ou vaso da alma. Quando chegasse o momento certo, todos seriam teleportados para uma das espaçonaves operadas por anjos.
A Time informou (27 de agosto de 1979) que na época os membros do culto usavam capacetes e luvas, obedeciam a “milhares” de regras, estudavam intensamente a Bíblia e passavam períodos em que apenas se comunicavam uns com os outros por escrito…
[...] Suas vidas eram mais regulamentadas do que as vidas de soldados. Tinham armas em estoque, para o caso de forças do governo os atacarem, como haviam feito com os davidianos em Waco. Foram traçados planos meticulosos para o suicídio em massa assim que os seres superiores lhes dessem um “sinal” nos céus. [...] Um eclipse lunar no dia 23 de março de 1997 pode ter reforçado o sinal.
Fizeram videoteipes lancinantes em que as felizes ovelhas sorridentes diziam como ansiavam prazerosamente pelo momento em que deixariam seus veículos e sairiam de um planeta condenado. [...]
Como hoje todos sabem, dezoito homens e vinte e uma mulheres adormeceram com fenobarbital misturado num pudim ou em molho de maçã e depois tomaram vodka. Foram amarrados sacos plásticos em suas cabeças para sufocá-los durante o sono. O rosto e a parte superior dos corpos dos “monges”, como se chamavam, foram cuidadosamente cobertos com um quadrado de pano vermelho-escuro. Todos os trinta e nove estavam vestidos igualmente: calças e camisas negras, tênis de corrida Nike, também pretos. Os dois últimos a morrer foram mulheres com os sacos nas cabeças, mas sem a cobertura vermelha.”
Os suicídios em massa no Racho Santa Fé foram imitados por muitos suicídios e tentativas de suicídios:
- 31 de março de 1997, Robert Nichols, 58 anos de idade, encontrado morto com um saco plástico na cabeça e uma mortalha cobrindo seu corpo;
- 01 de abril de 1997, Robert Wayne Parker e Chan Patrick Alfred Naillon, ambos na faixa dos 20 anos, tentaram se matar na esperança de pegar uma carona na espaçonave que vinha atrás do Hale-Bopp;
- 06 de maio de 1997, Wayne Cooke e Chuck Humphrey.
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