sábado, 19 de maio de 2012

Covarde doutrinação de crianças!

Todos nós sabemos que uma das patologias mais comuns presente no universo religioso é a doutrinação de crianças em atendimento ao dogma, perpetuando e permitindo, assim, toda a sorte de malefícios oriundos da crença teísta. Junto com os versículos, sempre vai de brinde o preconceito, o medo, a redução da capacidade crítica, a idéia de pecado e de que nada tem valor a não ser aquilo obtido, por favor e em favor de deus; gerando, em muitos casos, danos irrecuperáveis à estima desses seres, que jamais entenderão totalmente o valor de suas conquistas pessoais. Se a pratica já é nefasta com adultos, imagine-se com crianças.
Qual das nossas pequeninas crianças não tem medo do bicho-papão; mula sem cabeça ou o “velho do saco”; personagens que são usados para “controlá-las” naquelas horas difíceis e insuportáveis para alguns adultos? Mas não são só estas personagens que põem medo nos nossos pequeninos. Existem hoje nas diversas igrejas cristãs milhares de crianças sob o medo de um terrível inferno e um diabo! Esta última “personagem” entra para o “guinness espiritual” como o mais temido pelos nossos “cristãozinhos”!
Agora imagine se trocarmos Jesus pelo Homem-Aranha e a Bíblia por um gibi. Imagine que todos os domingos, durante algumas horas, fossem ensinados a essas crianças que o famoso herói aracnídeo é real e pior; que se ele não for amado e adorado, elas serão picadas por tenebrosas aranhas venenosas enquanto dormem. É altamente provável que, sendo crianças, boa parte delas não só acreditem como ainda rezem para que o personagem da Marvel as proteja das citadas aranhas peçonhentas.
Claro que o exemplo é ridículo, não? Agora troque-se o Homem-Aranha pelo “Leão de Judá”. Esse ser, assim como o herói citado, também possui super-poderes, como saber o que todos pensam, ouvir o que todos dizem e ver o que todos fazem… Tudo ao mesmo tempo. O “livro mágico” desse ente todo-poderoso também afirma que, se esse antigo e sanguinário herói não for seguido de forma incontestável, se não for amado de forma inflexível e obedecido cegamente, não haverá alternativa senão a condenação a uma vida eterna de tormenta inescapável, em um cenário de fogo e enxofre, onde se perpetuarão torturas inimagináveis conduzidas por um vilão inigualável: Satanás.
Sejamos honestos! Que jovem resistiria a tal imagem? Resta alguma alternativa senão adorar esse ser místico que, inclusive, segundo seu próprio livro sagrado, já trucidou populações inteiras de crianças anteriormente? Fale a verdade: se você, que lê este texto agora, tivesse menos de dez anos… estaria aterrorizado, não?
Pois, se você acha que, nas escolas dominicais, só se fala da mensagem de paz e de amor que Cristo pregava está muito enganado. O diabo e o juízo final aparecem tanto quanto Jesus nas inocentes aulas ministradas nos fundos das igrejas. Muitas vezes ganham destaques mais do que o próprio Cristo e sua salvação.
Crescemos sempre ouvindo que o abuso de crianças se constitui em estupro e em violência física. Inclusive lemos sobre isso na própria Bíblia! E o abuso mental, onde fica? Será que não causa danos em uma psicologia claramente em construção? Já existem psicólogos que se especializam em tratar síndromes causadas por medo religioso; adultos e crianças que, repetidamente, têm pesadelos e fobias geradas por temor do inferno, do diabo e depressão por culpa relacionada a pecado. Jovens que, agora, relatam traumas relacionados com a igreja que frequentavam, que adoecem porque afirmam que o fim do mundo está próximo; vez que ouviram sistematicamente, quando crianças, que qualquer evento climático deveria ser interpretado como um sinal apocalíptico. Cada vez mais relatos são apresentados, indicando que crianças que sofreram tal doutrinação, tem boas possibilidades de desenvolver transtornos de ansiedade crônica. Além disso, é preciso ressaltar que, muitas dessas crianças, estarão “condenadas de verdade” a viverem uma vida com experiências limitadas pelas escolhas de outros, apenas em atendimento a doutrinas oriundas de uma época em que se acreditava que os ratos nasciam do queijo.
Esse é o resultado de pais e de igrejas que convencem seus filhos e jovens de que eles são pecadores e que precisam de redenção. Não é raro ouvir de alguns cristãos que empurram esse “lixo” goela abaixo das crianças, aduzindo que, “não acham correto dar valor a auto-estima e que os jovens se sintam bem a respeito de si mesmos, porque eles realmente não devem desenvolver tal sentimento, já que são pecadores e, antes, precisam aceitar a Cristo”; isto tudo tomando por base um versículo que diz: “Instrui a criança no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Provérbios 22.6) Really?!?!?! Com sete ou oito anos?  Esse é o tipo de pensamento que faria Calígula abrir um sorriso.
Muitos desses pequeninos estão crescendo ouvindo seus pais pronunciarem versículos como:
O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina.” (Prov. 13.24)
“A imbecilidade está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela.” (Prov. 22.15)
Estes versículos são agradáveis aos pais cristãos por supostamente concederem “poder” sobre seus filhos e têm sido usados para a imposição de suas doutrinas bíblicas absurdas, ao ponto de os ameaçarem para não “se desviarem delas”. Para tais pais, esse pensamento é realmente “instruir a criança no caminho certo”.
Alguns pais afirmam que a única saída é mesmo a doutrinação, uma vez que seus filhos já nasceram pecadores e que essa é a natureza deles herdada de Adão. Alguém ainda acredita que crescer nesse ambiente não trará um impacto absolutamente negativo na vida dessa criança?
Psicólogos afirmam que os primeiros cinco anos são essenciais para o desenvolvimento da pessoa. Desse pressuposto, muitos cristãos doutrinadores sufocam seus pequeninos com histórias e doutrinas bíblicas camufladas pelo “amor”, deixando oculto o mal que tais doutrinas causam na psique do ser humano.
Vejamos: existe essa criança, que tem cinco anos de idade e seus pais acreditam que ela deve ser doutrinada em Jesus, porque é pecadora e, portanto, tecnicamente má e em débito. Sua família vê como pecado, por exemplo, o simples fato dela atormentar os irmãozinhos ou não obedecer à mãe. Sim, lamentavelmente, isso é verdade e acontece todos os dias. Ocorre que, enquanto para esses fanáticos, que, repetidamente, assustam as crianças com a frase  “isso é pecado”, para o resto da população isso se chama apenas “ser uma criança normal”.
É assustador como ficarão pesadas as pequenas mochilas dessas crianças quando acrescidas de todas essas crenças da era do bronze. Qual o tamanho do prejuízo que será impingido a essas personalidades em pleno desenvolvimento?  Quanto afetada será a noção de realidade desses jovens? Até que ponto o senso crítico ficará comprometido? Será que estarão bem preparados para viver em um mundo secular, em um país onde prevalece a separação entre o Estado e a Igreja? Como entenderão, por exemplo, que suas crenças a respeito de alma, sexo pré-marital, homossexualidade e casamento gay não se coadunam com a isonomia constitucional garantida através da razão e vislumbrada para reger um mundo secularista? Enfim, como sendo tão jovens, poderão compreender que sofrem uma pesada “lavagem cerebral” que, senão for freada, terá o poder de contaminar e adoecer a verdadeira dádiva que possui o ser humano, que é o de ser um livre pensador.
Por que não é passado para as crianças nascidas em lares de pais religiosos a mensagem de maus-tratos, abusos sexuais e mortes de crianças na Bíblia? Sabe em que período da sua vida (infância ou adolescência) essas crianças terão acesso a tais versículos ou passagens bíblicas maléficas? Nunca! Se eles não lerem outras fontes que revelem o verdadeiro caráter dos chamados “homens de Deus” que escreveram sobre um deus segundo o seu pensamento, permanecerão como réus diante de seu juiz e consequentemente condenados por suas supostas leis.
De longe, só nos resta torcer para que essa vilania seja cada vez mais atacada e para que psicólogos e pessoas responsáveis por este país se mobilizem no sentido de limitarem e supervisionarem o ensino do dogma a crianças. Lutar para que os que promovem essa prática entendam que crianças devem ser educadas, não doutrinadas, que respeito a algo ou a alguém não deve ser automático, mas merecido.
Quem sabe assim até seja possível, um dia, essas mesmas crianças, perguntarem a seus pais e professores de escola dominicais, porque elas são pecadoras e merecedoras de um inferno eterno para o qual em nada contribuíram.
Humberto P. Charles
&
Andrea Foltz

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