A Sociedade...vazia e hipócrita que privilegia o ter,o dominar,o conquistar,mas que nunca soube o que é o Ser?
O que tem a dizer sobre esta frase?
Contra capa do livro "A origem da desigualdade entre os homens" de Rousseau
Contra capa do livro "A origem da desigualdade entre os homens" de Rousseau
resposta - Escolhida pelo autor da pergunta
Primeiro, que, por esta frase, vc pode ter uma idéia do retrato da sociedade que Rousseau ilustrará em seu "Discuro Sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens". Eu não me lembro bem que caminhos ele usou para formar o nexo de sua tese, mas, em síntese, Rousseau defende que o homem é naturalmente bom, mas a sociedade o corrompeu e o transformou em mau. Muito ao contrário do que pensavam, por exemplo, Voltaire (o seu maior crítico e seu contemporâneo), Thomas Hobbes e Nietzsche.
Para Nietzsche, a base da essência humana é a crueldade. O homem é, em sua natureza, um verdadeiro bárbaro e é a civilização a responsável pelo refinamento de sua rudeza. Mas, segundo Nietzsche, a civilização só consegue refinar (ou sublimar), e não erradicar essa base de crueldade. que, vez ou outra, se deixa aflorar. Foram preciso milênios para que o homem chegasse ao estágio de refinamento que chegou, refinamento que foi moldado a ferro e fogo e muito sangue derramado.
Segundo: É preciso, senão imprescindível nos esvaziarmos o quanto possível, do nosso "teórico carregado", e procurarmos nos distanciar o quanto possível da nossa herança de valores, das nossas afetações e ressentimentos para analisarmos o conteúdo de fronteiras desta ordem. É preciso nos desfazermos, ainda que temporariamente, de valores e preconceitos que nos foram incutidos pela moral e pelo religioso. Feito isso, um longo e não fácil caminho pelas províncias da Antropologia, avançando para a Sociologia e Psicologia, pode nos explicar tudo isso, ou seja, porque a sociedade é vazia e hipócrita e porque privilegia o ter, dominar e conquistar, em detrimento do conhecimento do Ser. Ser aqui, designando o que nós entendemos por essência. [Ora, dirá, Nietzsche, "mas não há Ser algum!" (Aber es gibt kein Sein!)]. Explicação que nós compreenderemos sem julgar o homem de certo ou errado, de vil o nobre, de tirano ou submisso. Sobretudo, sem ressentimento e repugnância. Só assim, poderemos compreender este emaranhado de vidas que se entrelaçam, os seus fluxos e refluxos, o avançar e o recuar, o criar e o destruir, a sua interdependência, enfim, a vida como ela é e tal qual se nos apresenta, inclusive com todos os seus contraditórios. Tudo é importante, tudo tem o seu valor e está nesta coexistência feito uma simbiose, como uma necessidade. Vc verá que a hipocrisia (esta palavra que tornaram feia, mas na realidade não é), é a máscara que mais usamos e não poderia ser de outro jeito. E tudo pode ter começado mesmo como disse Rousseau: "cada um começou a olhar o outro e a desejar ser ele próprio olhado". O fato é que "precisamos e vivemos mais da mentira do que da verdade". Mas isso, vc só vai entender lendo Nietzsche.
Beijos.
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