SEI QUE PARECE ESQUISITO, mas recentemente eu venho pensando nessa
possibilidade. Sei também que muitos poderão achar que pensar desta
forma é jogar na defesa e fazer gol contra. No entanto depois de algumas
reflexões é possível que você também venha a pensar como eu.
Recentemente me encantei com a leitura
do livro Religião e Repressão do teólogo brasileiro Rubem Alves.
Confesso que algumas afirmações ali contidas me marcaram profundamente e
me fizeram re-pensar algumas verdades que me negava a admitir.
Quero compartilhar com você algumas dessas conclusões contidas, nesse texto e desafiar você a refletir sobre elas:
Assegura Alves:
“Deus dá nostalgia pelo vôo.
As religiões constroem gaiolas.
Quando o vôo se transforma em gaiolas, isso é idolatria”.
Não pude deixar também de pensar nas
palavras de Jesus: “Em vão me adoram ensinado doutrinas que são
preceitos de homens” (Mc. 7.7) O que será que ele estava criticando
naquele momento? Como reconhecer uma “doutrina” que seja ou não
“preceito humano”, Sabemos, porém que a vocação das religiões é
construir e preservar. doutrinas
Diante dessas inquietações, comecei a pensar na possibilidade de um mundo sem religiões.
Obviamente que não estou levantando
dúvida sobre a validade da religião como fenômeno, como manifestação de
uma espiritualidade sadia. No entanto, não posso negar que as religiões
enquanto instituições se transformaram em gaiolas que buscam prender o
pássaro da espiritualidade proclamando ainda que ele só pode ser
encontrado dentro delas.
Verdade é que a religião tem vocação
natural para a proibição, para construir e preservar os tabus, dentro
dela não existe lugar para a liberdade e para o vôo. “Prisioneiro,
dize-me quem foi que fez essa inquebrantável corrente que te prende?
“(pergunta Tagore) Fui eu disse o prisioneiro fui eu que forjei com
cuidado esta corrente”.
Toda vez que o “pássaro” se nega a
cantar dentro da gaiola e começa a cantar de forma diferente, que o
prisioneiro resolve quebrar as correntes, é logo acusado de rebeldia e
rotulado de herege, afinal pássaro bom é pássaro adestrado.
Sempre pensei a religião como algo libertador,
mas quando olho os sistemas religiosos que atualmente se multiplicam no
mundo, suas múltiplas regras normas e proibições, fico a pensar se às
vezes esta pretensa liberdade não se traduz em prisão.
Em “Os irmãos Karamázovi”, no relato sobre o Grande Inquisidor, Dostoiévski escreveu: “Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível”.
As correntes, algemas e grilhões forjados pela religião impedem que a
experiência religiosa se torne um vôo nostálgico e se transforme em uma
caminhada penosa. Deixe de ser a manifestação prazerosa da experiência
com o sagrado e se torne a cega observância de regras, normas, dogmas e
doutrinas, ou seja: a religião passa a escravizar o homem, alimentando-o
com a ilusão de que é melhor a segurança da gaiola que a incerteza da
liberdade.
Na verdade, as religiões acreditam ter o
monopólio da experiência religiosa, de forma que a única forma de
liberdade possível é dentro das gaiolas da religião. Nas palavras de
Rubem Alves: “As religiões são instituições que pretendem haver colocado numa gaiola o pássaro encantado”
Fiquei pensando: Como seria um
mundo sem religião? Sem gaiolas nem correntes! Sei muito bem que o mundo
não se transformaria em um utópico Éden na terra, porém vislumbro
algumas realidades que poderiam mudar.
Creio que um mundo sem religiões, nos
proporcionaria a superação do DOGMATISMO, sabemos que a religião se
funda no dogma, na certeza ainda que irracional de que determinada
verdade não comporta questionamentos, o dogma representa a mordaça da
liberdade religiosa, ela mata a liberdade de consciência, e impede o
desvelar de novas compreensões sobre o fenômeno religioso.
Além disso, um mundo sem religiões nos
conduziriam pelo caminho para vencer a INTOLERÂNCIA religiosa. Sei muito
bem que a religião não é a única responsável pelas manifestações de
intolerância na sociedade. Não se pode negar, porém que ela ainda
representa o principal foco, as pessoas são inflexíveis e impiedosas na
defesa das suas convicções religiosas, talvez motivado por uma intenção
sincera, os resultados, porém não precisamos citar aqui, a história é
testemunha de que em nome de Deus e em defesa das religiões, muito
sangue foi derramado, muita lágrima vertida e a dor semeada em
abundância.
Acredito ainda que um mundo destituído
das religiões enfim nos proporcionasse o fim dos movimentos
FUNDAMENTALISTAS religiosos, a exemplo do Taliban, dos Xiitas, Ku Klux
Klan, que serviu para garantir o domínio dos protestantes brancos sobre
negros, católicos, judeus e asiáticos dos Estados Unidos.
Creio que um mundo sem religiões nos pouparia do radicalismo e do
Legalismo que caracteriza o fanatismo religioso capazes de tudo na
defesa intransigente da fé.
Talvez tenha sido pensando assim que o
teólogo contemporâneo Dietrich Bonhoeffer idealizou um “Cristianismo sem
religião” e Karl Barth a falar do “caráter diabólico da religião”
Penso que um mundo sem religiões, porém, com
fraternidade, sem instituições religiosas, porém sensível aos reais
problemas que afligem a humanidade, que proporcionasse aos homens uma
convivência pacífica e respeitosa, talvez seja um sonho, uma utopia. Más
acredite: Eu trocaria todas as religiões do planeta por um mundo assim.
Neilton Azevedo
Mestrando em Ciência das Reigiões.
Agradeço terem postado meu texto, saber que de alguma forma ele despertou o interesse de vocês muito me acrescenta. Convido-os a visitar meu blog onde posto minhas idéias. sagradofilosofico.blogspot.com. Um grande abraço e muito obrigado.
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