quarta-feira, 18 de julho de 2012

Cangaço



CANGACEIROS

O Cangaço foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro de meados do século XIX ao início do século XX. O cangaço tem suas origens em questões sociais e fundiárias do Nordeste brasileiro, caracterizando-se por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas, sequestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão brasileiro, praticando tais crimes, fugindo e se escondendo.
Cangaço é palavra derivada de canga, peça de madeira simples ou dupla que se coloca na parte posterior do pescoço de bois nos carros de boi. Assim, cangaceiro foi o nome dado a todos os criminosos, uma vez que os prisioneiros eram obrigados a carregar seus pertences pendurados no pescoço.O Cangaço pode ser dividido em três subgrupos: os que prestavam serviços esporádicos para os latifundiários; os "políticos", expressão de poder dos grandes fazendeiros; e os cangaceiros independentes, com características de banditismo.
Os cangaceiros conheciam bem o Cerrado, e por isso, era tão fácil fugir das autoridades. Estavam sempre preparados para enfrentar todo o tipo de situação. Conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso.
O primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo Calado, "Jesuíno Brilhante", que agiu por volta de 1870, embora alguns historiadores atribuam a Lucas Evangelista o feito de ser o primeiro a agregar um grupo característico de cangaço,[3] nos arredores de Feira de Santana (em 1828), sendo ele preso junto com a sua quadrilha em 28 de Janeiro de 1848 por provocar durante vinte anos assaltos contra a população de Feira.[4] O último grupo cangaceiro famoso porém foi o de "Corisco" (Cristino Gomes da Silva Cleto), que foi assassinado em 25 de maio de 1940.
O cangaceiro mais famoso foi Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, também denominado o "Senhor do Sertão" e "O Rei do Cangaço". Atuou durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os estados do nordeste.
Por parte das autoridades, Lampião simbolizava a brutalidade, o mal, uma doença que precisava ser cortada. Para uma parte da população do sertão, ele encarnou valores como a bravura, o heroísmo e o senso da honra (semelhante ao que acontecia com o mexicano Pancho Villa).[5]
O cangaço teve o seu fim a partir da decisão do então Presidente da República, Getúlio Vargas, de eliminar todo e qualquer foco de desordem sobre o território nacional. O regime denominado Estado Novo incluiu Lampião e seus cangaceiros na categoria de extremistas. A sentença passou a ser matar todos os cangaceiros que não se rendessem.
No dia 28 de julho de 1938, na localidade de Angicos, no estado de Sergipe,Lampião finalmente foi apanhado em uma emboscada das autoridades, onde foi morto junto com sua mulher, Maria Bonita, e mais nove cangaceiros.
Os cangaceiros foram degolados e suas cabeças colocadas em latas contendo aguardente e cal, para conservá-las. Foram expostas por todo o Nordeste e por onde eram levadas atraiam multidões.[1]
Este acontecimento veio a marcar o final do cangaço, pois, a partir da repercussão da morte de Jorge, os chefes dos outros bandos existentes na Bahia vieram a se entregar às autoridades policiais para não serem mortos.

História do Cangaço

Mapa de atuação do Cangaço.
Consta que o primeiro homem a agir como cangaceiro teria sido o Cabeleira, como era chamado José Gomes. Nascido em 1751, em Glória do Goitá, cidade da zona da mata pernambucana, ele aterrorizou sua região. Mas foi somente no final do século XIX que o cangaço ganhou força e prestígio, principalmente com Antonio Silvino,Lampião e Corisco.
Entre meados do século XIX e início do século XX, o Nordeste do Brasil viveu momentos difíceis, aterrorizado por grupos de homens que espalhavam o terror por onde andavam. Eles eram os cangaceiros, bandidos que abraçaram a vida nômade e irregular de malfeitores por motivos diversos. Alguns deles foram impelidos pelo despotismo das mulheres poderosas.
Lucas da Feira, ou Lucas Evangelista, agiu na região da cidade baiana de Feira de Santana entre 1828 e 1848. Ele e seu bando de mais de 30 homens roubavam viajantes e estupravam mulheres. Foi enforcado em 1849.[1]
Um famoso cangaceiro foi Lampião. Os cangaceiros conseguiram dominar o sertão durante muito tempo, porque eram protegidos de coronéis, que se utilizavam dos cangaceiros para cobrança de dívidas, entre outros serviços "sujos".
Um caso particular foi o de Januário Garcia Leal, o Sete Orelhas, que agiu no sudeste do Brasil, no início do século XIX, tendo sido considerado justiceiro e honrado por uns e cangaceiro por outros.
No sertão, consolidou-se uma forma de relação entre os grandes proprietários e seus vaqueiros.
A base desta relação era a fidelidade dos vaqueiros aos fazendeiros. O vaqueiro se disponibilizava a defender (de armas na mão) os interesses do patrão.
Como as rivalidades políticas eram grandes, havia muitos conflitos entre as poderosas famílias. E estas famílias se cercavam de jagunços com o intuito de se defender, formando assim verdadeiros exércitos. Porém, chegou o momento em que começaram a surgir os primeiros bandos armados, livres do controle dos fazendeiros.
Os coronéis tinham poder suficiente para impedir a ação dos cangaceiros.
O cangaceiro - um deles, em especial, Lampião - tornou-se personagem do imaginário nacional, ora caracterizado como uma espécie de Robin Hood, que roubava dos ricos para dar aos pobres, ora caracterizado como uma figura pré-revolucionária, que questionava e subvertia a ordem social de sua época e região.
Alguns Cangaceiros

Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, Ezequiel Ferreira da Silva, vulgo Beija-Flor, Domingos dos Anjos, vulgo Serra do Uman, Luiz Pedro do Retiro, Hermínio Xavier, vulgo Chumbinho, José de Souza, vulgo Tenente, Laurindo Soares, vulgo Fiapo, João Mariano, vulgo Andorinha, Joaquim Mariano Antonio de Severia, vulgo Nevoeiro, Antonio Romeiro, Sabino Gomes, Izaias Vieira, Vulgo Zabêlê, Ignacio de Medeiros, vulgo Jurema, Felix da Matta Redonda, vulgo Felix Caboge, Heleno Caetano da Silva, vulgo Moreno, João Donato, vulgo Gavião, Pedro Gomes, João Henrique, Antonio Rosa, Cornelio de Tal, vulgo Trovão, José Lopes da Silva, vulgo Mormaço, José Delphina, João Cesario, vulgo Coqueiro, Emiliano Novaes, Manoel Antonio de França, vulgo Recruta, Francisco Antonio da Silva, vulgo Cocada, José e André de Sá, conhecidos por Marinheiros, Genesio de Souza, vulgo Genesio Vaqueiro, Vicente Feliciano, vulgo Vicente Preto, José Benedicto, Pedro de Quelé, José de Generosa, José de Angelica, Ricardo da Silva, vulgo Pontaria, Josias Vieira, vulgo Gato, José ou Antonio de Oliveira, vulgo Menino, José Luz, vulgo José de Souza, ou José Procopio, Cypriano de Tal, vulgo Cypriano da Pedra, José Alexandre, vulgo José Preto, João Angelo de Oliveira, vulgo vereda, Firmino de Oliveira, Pedro Ramos de Oliveira, vulgo Carrapeta, Antonio dos Santos, vulgo Cobra Verde, Damíão de Tal, vulgo Chá Preto, Virginio Fortunato, Manoel Vieira da Silva, vulgo Lasca-Bomba, Antonio Juvenal, vulgo Mergulhão, José Pretinho, João Basílio, vulgo Joca Basilio, José Rachel, vulgo Papagaio, Anisio Marcolino, vulgo Gasolina, Sebastião Valério da silva, vulgo Canção, Antonio Constancia, Camillo Domingo, vulgo Pirulito, Laurindo Virgolino, vulgo Mangueira, Minguel Gonçalves, Horacio Novaes, José Cipaúba, José Cariry, vulgo Fortaleza, Francelino Jaqueira, João Canafitula, Urbano Pinto, Raymundo da Silva, vulgo Aragão.
Cangaço na Cultura popular
Literatura de cordel
O cangaço é um dos principais temas mais explorados na literatura de cordel, onde o cangaceiro é retratado como herói.[6] Literatura de Cordel é, como qualquer outra forma artística, uma manifestação cultural. Por meio da escrita são transmitidas as cantigas, os poemas e as histórias do povo — pelo próprio povo. O nome de Cordel teve origem em Portugal, onde os livretos, antigamente, eram expostos em barbantes, como roupas no varal.
Livros
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    • O Cabeleira, de Franklin Távora
    • Jurisdição dos Capitães – A História de Januário Garcia Leal e Seu Bando - Editora Del Rey, Belo Horizonte, 2001, Marcos Paulo de Souza Miranda.
    • Lampião e Maria bonita de Liliana Iacocca, Editora Ática
    • Flor de Romances Trágicos, de Luís da Câmara Cascudo, Editora Cátedra.
Filmes
Os primeiro filmes sobre o cangaço datam de meados dos de 1920 do início da 1930[7]. Entre as décadas de 1950 e 1960, os filmes brasileiros sobre cangaço são bastante influênciados pelos filmes de faroeste dos Estados Unidos, um deles foi O Cangaceiro (1953).[7][8]
Histórias em quadrinhos
Na década de 1950, inspirado no sucesso de O Cangaceiro, o quadrinista Gedeone Malagola lança uma revista em quadrinhos sobre o fictício "Milton Ribeiro, O Cangaceiro", Milton Ribeiro é o nome do ator que interpretou o cangaceiro Galdino no filme de 1953, a diferença de Milton Ribeiro para Galdino, é que nos quadrinhos Milton é o herói.[9]. Em 1963, Mauricio de Sousa comandava o Suplemento Infanto-Juvenil do jornal Folha de São Paulo, Mauricio então pediu a Julio Shimamoto que criasse uma tira para o suplento, Shimamoto elaborou dois projetos: uma tira sobre cangaceiros e outra sobre gaúchos, no fim resolveu criar a tira Fidêncio, o gaúcho, na época, cangaceiros eram retratados como bandidos[10].
Em 1974, o brasileiro Jô Oliveira publicou a história "A Guerra do Reino Divino" na revista italiana Alterlinus, dois anos depois a editora brasileira Codecri (mesma editora responsável por O Pasquim) publicou a obra no país.[11] A arte do Jô é bastante influênciada pelos cordeis e é considerada a primeira graphic novel brasileira.[12] Apesar de ser um tema brasileiro, o tema também é explorado por autores de outros países como o belga Hermann que escreveu e desenhou a revista Caatinga (publicada no Brasil pela Editora Globo)[13], ou também o italiano Hugo Pratt ("La macumba du Gringo").
Outros autores retrataram o Cangaço como Danilo Beyruth (Bando de Dois),[14] Flávio Luiz( O Cabra),[15] Wilson Vieira, Eugênio Colonnese e Mozart Couto (Cangaceiros - Homens de Couro #1),[16] Klévison (Lampião --era o cavalo do tempo atrás da besta da vida: uma história em quadrinhos) entre outros.‎
Referências
  1. a b c Cavalcante, Messias Soares. A verdadeira história da cachaça. São Paulo: Sá Editora, 2011. 608p. ISBN 9788588193628
  2. O ciclo épico dos cangaceiros na poesia popular do nordeste (Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro 1982) – ver referência na bibliografia de Ronald Daus
  3. Lampião Aceso
  4. Transcrição do interrogatório de Lucas da Feira
  5. Klévisson. Lampião --era o cavalo do tempo atrás da besta da vida: uma história em quadrinhos. [S.l.]: hedra, 2000. 9788587328076
  6. Mark J. Curran. História do Brasil em cordel. [S.l.]: EdUSP, 1998. 61 p. 9788531404061
  7. a b Luiz Zanin Oricchio (16 de outubro de 2010). O cangaço está em toda parte. O Estado de São Paulo.
  8. AnnaLice Dell Vecchio (20 de dezembro de 2010). Um faroeste à moda do cangaço. Gazeta do Povo.
  9. Franco de Rosa. (Outubro 2008). "Wizmania (2ª versão) #6 - Homenagem a Gedeone Malagola, uma lenda dos gibis brasileiros" (em português): 56 a 59. São Paulo: Panini Comics. ISSN 16795598 16795598
  10. O Gaúcho, antes de tudo um aventureiro. Universo HQ.
  11. Ota e Francisco Ucha (janeiro de 2011). "Jornal da ABI #362 - A Cronologia dos Quadrinhos - Parte 2"
  12. Sidney Gusman. A Guerra do Reino Divino. Universo HQ.
  13. Sidney Gusman. Caatinga. Universo HQ.
  14. Sidney Gusman (9 de setembro de 2010). Bando de dois, de Danilo Beyruth, sai pela Zarabatana. Universo HQ.
  15. Paulo Ramos (9 de dezembro de 2010). Cabra macho, sim, senhor. UOL.
  16. Marcelo Naranjo, sobre o Press release (26 de agosto de 2004). Homens de Couro é o novo álbum do CLUQ. Universo HQ.

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