Uma Revolução Estrutural
Do livro A Inteligência do Evangelho
Não importa o quanto estudamos, o que lemos e
ouvimos da experiência de outros homens. Podemos ser fortemente
impactados pelo testemunho de alguém; podemos ser levados às lagrimas,
e, até, a tomar decisões sérias, mas ainda assim, é necessário que
vivamos nossa experiência pessoal com Deus.
O profeta Isaías foi uma daquelas muitas pessoas que
se relacionaram com Deus na carona da experiência de outros, cumprindo
os requisitos da religião do seu tempo. Seguiu o protocolo, observou as
regras da sua fé, norteou-se pelos conceitos que lhe haviam passado e
criou para si um conceito desajeitado a respeito do Deus de Israel, até o
dia que teve uma experiência que mudou para sempre sua vida!
Um encontro com Deus, pelos relatos bíblicos, nem
sempre será uma experiência festiva; ver o Senhor e ouvir sua voz pode
ser uma experiência aterrorizante! Depois de ter tido uma visão da
glória de Deus, Isaías exclamou apavorado: “Ai de mim! pois estou
perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo
de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!”
(Is 6:5)
Ninguém sai de uma experiência, como a que teve
Isaías, sem experimentar um abalo sísmico de proporções gigantescas em
sua alma. O que aconteceu com Isaías foi uma revolução estrutural que
alterou dramaticamente o curso de sua vida. Creio que é exatamente disso
que todos nós necessitamos, uma revolução estrutural que atinja o âmago
da nossa prepotência, da nossa auto-suficiência; um abalo que arrase a
soberba, o orgulho, aquela altivez própria dos seres caídos. Digo isso,
porque todas essas adjetivações são de herança maligna, razão porque
precisam ser erradicadas de nossa alma.
Só uma experiência assim, dramática, fará com que
nossa miséria fique patente aos nossos próprios olhos, a ponto de
julgarmo-nos “perdidos”. Só então estaremos prontos para a reforma de
que tanto necessitamos e que tão constantemente rejeitamos. A
experiência de Isaías foi tão profunda que ele mesmo reconheceu seu
estado de completa perdição. Ele disse: “Ai de mim! Estou perdido!” Foi
ferido de morte em sua presunção como homem letrado que era. As bases
que davam sustentação à sua vida foram movidas; sentiu faltar-lhe o
chão. Haviam caído as colunas. Concluiu desesperado: “Estou perdido!”.
As revoluções estruturais acabam conosco! Soa
estranho, não é? Mas é exatamente disso que precisamos. Por incrível que
pareça, essas experiências nos tornam diferentes, transformados, e para
melhor. Somos, na maioria das vezes, a favor de mudanças, desde que
elas não acarretem tanto transtorno. Ninguém em bom juízo quer se vir
transtornado, não é mesmo? Simpatizamos mais com mudanças conjunturais,
ou seja, medidas puramente cosméticas, superficiais, que não ocasionem
tanta dor. Falhamos em reconhecer e admitir que, em tantos casos, a
situação demanda medidas cirúrgicas. Contentamo-nos e nos acomodamos com
a situação em que muitas vezes nos encontramos, pois, afinal, pensamos,
a vida deve seguir, e , cá entre nós, ninguém é de ferro!
É assim que vamos abrindo concessões. Concessões são
aquelas formas, aqueles “jeitinhos” que damos para contornar situações
complexas; geralmente servem para poupar nossa auto-imagem, manter as
aparências, preservar relacionamentos e assim por diante. Somos mestres
no assunto. Muitas vezes nos sentimos até mesmo orgulhosos quando,
através desse tipo de habilidade, conseguimos mascarar uma determinada
situação. Alguns têm mais habilidade, outros menos, mas, fato é que
todos possuem algo de inato nesse campo.
Essas concessões são verdadeiros agentes de
auto-engano. Tanto para o indivíduo, como para o grupo. É bem verdade
que temos que ter mecanismos para negociar com determinadas situações;
não podemos esperar lograr sucesso tratando as pessoas “a ferro e fogo”.
Entretanto, se nos tornarmos muito diplomáticos, acabaremos evitando o
confronto e acovardando-nos sempre. Muito embora tal atitude tenha
aparência de inteligência, os resultados a longo prazo não serão nem um
pouco confiáveis. O que se faz nesse tipo de negociação, na verdade, é
arrolar a dívida, parcelando-a em suaves prestações… Não deveríamos
julgar como sábia tal estratégia!
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