quarta-feira, 11 de julho de 2012

Uma vela pra Deus e outra pro Diabo

Políticos e Política logo estarão unidos, começa o ano eleitoral.

UMA VELA PRA DEUS E OUTRA PARA O DIABO













Ainda que de certo modo desconsiderada pelos grandes atores da política nacional, a religião deixa de ser simples peão no tabuleiro da disputa eleitoral e assume status de peça importante em tempos de campanha. Um deslize por parte de um candidato descuidado na abordagem de temas sensíveis pode colocar uma eleição a perder. É famosa a campanha perdida por Fernando Henrique Cardoso pela prefeitura da cidade de São Paulo quando, em debate, vacilou em responder à pergunta se cria em Deus. Dizem os especialistas que foi nesse ponto exato que o placar virou em favor do falecido Jânio Quadros.
Políticos, salvo raríssimas excessões, têm a capacidade de se transformarem, como camaleões, ajustando-se manhosamente aos ambientes de diversidade complexa. Em época de campanha é comum ver certos candidatos acenderem, literalmente, “uma vela pra deus e outra pro diabo” ao participarem de cerimônias religiosas cujas doutrinas divergem inteiramente umas das outras. Ora estão entre os representantes de uma comunidade judaica, ora num culto evangélico pentecostal, ora no santuário católico de Aparecida, ora lavando juntos com  sacerdotes do candomblé as escadarias da igreja do Bonfim…
Sua aparição em um culto religioso, todavia, não é suficiente para convencer os religiosos de que este ou aquele candidato é simpático à sua causa. Os fiéis encontram-se cada dia mais envolvidos no processo democrático e fazem questão de saber onde realmente se posicionam os postulantes. No caso do universo cristão, seja católico ou protestante, o sinal já foi enviado: cuidado! temos o poder de mudar o rumo das coisas. Ainda que destoem num ou noutro ponto de doutrina, católicos e protestantes aglutinam-se e defendem em uníssono opinião semelhante em torno de temas como aborto, pena de morte, homossexualismo entre outros. Devido ao poder de influência e mobilização de milhões de fiéis, a grande mídia nessas ocasiões se vê obrigada a ouvir as lideranças cristãs e dedicar espaço especial à opinião das mesmas em suas publicações.
As revistas Carta Capital, Época e Veja trouxeram, simultaneamente, como matéria de capa em uma  edição de outubro, o tema sempre polêmico do aborto. Praticado clandestinamente em clínicas dirigidas por profissionais de probidade duvidosa, o aborto ganha relevância no debate democrático com poder de influenciar os resultados das urnas. Os candidatos esforçam-se para não desagradar o eleitorado, elaborando discursos de interpretação dúbia, na tentativa de hipnotizar e confundir os reais, mas lamentavelmente desinformados detentores do poder de decisão do pleito.
Sinceramente fico curioso ao ver ícones da cena evangélica emprestando sua voz e poder de influência a candidatos que nada tem a ver com sua confissão de fé. Por que setores do pentecostalismo como a ala da Assembléia de Deus, dirigida pelo Bispo Manoel Ferreira faz campanha para a candidata do PT? Por que o jovem cantor de grande sucesso no meio gospel, fez campanha e emprestou sua bela e ungida voz ao candidato (ativista gay) ao governo de Minas? Por que o grande e influente telepregador retira seu apoio a uma candidata respeitada e reconhecida como cristã e migra para o ninho do tucanato? Será que é apenas a expressão sincera de suas convicções políticas? Bom seria que fosse. Gostaria que fosse. Será que também não estamos acendendo duas velas??  Os três citados, todavia, não estão desacompanhados.







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