Políticos e Política logo estarão unidos, começa o ano eleitoral.
UMA VELA PRA DEUS E OUTRA PARA O DIABO
Ainda que de certo modo desconsiderada pelos grandes
atores da política nacional, a religião deixa de ser simples peão no
tabuleiro da disputa eleitoral e assume status de peça importante em
tempos de campanha. Um deslize por parte de um candidato descuidado na
abordagem de temas sensíveis pode colocar uma eleição a perder. É famosa
a campanha perdida por Fernando Henrique Cardoso pela prefeitura da
cidade de São Paulo quando, em debate, vacilou em responder à pergunta
se cria em Deus. Dizem os especialistas que foi nesse ponto exato que o
placar virou em favor do falecido Jânio Quadros.
Políticos, salvo raríssimas excessões, têm a
capacidade de se transformarem, como camaleões,
ajustando-se manhosamente aos ambientes de diversidade complexa. Em
época de campanha é comum ver certos candidatos acenderem, literalmente,
“uma vela pra deus e outra pro diabo” ao participarem de cerimônias
religiosas cujas doutrinas divergem inteiramente umas das outras. Ora
estão entre os representantes de uma comunidade judaica, ora num culto
evangélico pentecostal, ora no santuário católico de Aparecida, ora
lavando juntos com sacerdotes do candomblé as escadarias da igreja do
Bonfim…
Sua aparição em um culto religioso, todavia, não é
suficiente para convencer os religiosos de que este ou aquele candidato é
simpático à sua causa. Os fiéis encontram-se cada dia mais envolvidos
no processo democrático e fazem questão de saber onde realmente se
posicionam os postulantes. No caso do universo cristão, seja católico ou
protestante, o sinal já foi enviado: cuidado! temos o poder de mudar o
rumo das coisas. Ainda que destoem num ou noutro ponto de doutrina,
católicos e protestantes aglutinam-se e defendem em uníssono opinião
semelhante em torno de temas como aborto, pena de morte, homossexualismo
entre outros. Devido ao poder de influência e mobilização de milhões de
fiéis, a grande mídia nessas ocasiões se vê obrigada a ouvir as
lideranças cristãs e dedicar espaço especial à opinião das mesmas em
suas publicações.
As revistas Carta Capital, Época e Veja trouxeram,
simultaneamente, como matéria de capa em uma edição de outubro, o tema
sempre polêmico do aborto. Praticado clandestinamente em clínicas
dirigidas por profissionais de probidade duvidosa, o aborto
ganha relevância no debate democrático com poder de influenciar os
resultados das urnas. Os candidatos esforçam-se para não desagradar o
eleitorado, elaborando discursos de interpretação dúbia, na tentativa de
hipnotizar e confundir os reais, mas lamentavelmente desinformados
detentores do poder de decisão do pleito.
Sinceramente fico curioso ao ver ícones da cena
evangélica emprestando sua voz e poder de influência a candidatos que
nada tem a ver com sua confissão de fé. Por que setores do
pentecostalismo como a ala da Assembléia de Deus, dirigida pelo Bispo
Manoel Ferreira faz campanha para a candidata do PT? Por que o jovem
cantor de grande sucesso no meio gospel, fez campanha e emprestou sua
bela e ungida voz ao candidato (ativista gay) ao governo de Minas? Por
que o grande e influente telepregador retira seu apoio a uma candidata
respeitada e reconhecida como cristã e migra para o ninho do tucanato?
Será que é apenas a expressão sincera de suas convicções políticas? Bom
seria que fosse. Gostaria que fosse. Será que também não estamos
acendendo duas velas?? Os três citados, todavia, não estão
desacompanhados.
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