O
que é a “iniciação cristã”? “Iniciar” alguma pessoa em alguma coisa
significa explicar-lhe o sentido do que ela pretende saber, fazer ou ser
e levá-la a fazer experiência da nova realidade em que está sendo
iniciada. A expressão “iniciação cristã” se refere ao caminho que se
deve seguir para que uma pessoa conheça Jesus Cristo, aprenda a ser
“cristã”, seguidora do Mestre. Isso envolve instrução, treino,
aprendizagem e vivência.
Da
mesma forma como o agricultor planta a sementinha de uma árvore
frutífera e em seguida cuida para que a semente germine, cresça, forme
tronco, ramos e folhas, e finalmente produza flores e frutos; assim
também a semente da Palavra de Deus, semeada no coração de quem se
aproxima de Cristo, deve ser cultivada para que germine, floresça e
produza frutos de vida eterna. Isso é a iniciação cristã. Ela se dá pelo
conhecimento da Palavra de Deus transmitida pela Igreja, pela fé em
Jesus, pelo esforço de conversão, pela recepção dos sacramentos do
Batismo, da Crisma (Confirmação) e da Eucaristia: são esses três
sacramentos que “fazem o cristão”.
Vejo
que você já levanta um questionamento. Você me diz: que sentido pode
ter para mim a iniciação cristã, se fui batizado/a quando criancinha,
fiz a primeira Comunhão sem ter muita noção do sentido da Eucaristia e
recebi a Crisma entendendo muito pouco do que estava acontecendo?
Boa
pergunta. Este é um dos problemas mais sérios da vida da Igreja, de
modo especial no Brasil. Digamos que você nasceu num país católico
(hoje, cada vez menos...), numa família católica, foi batizado/a
criancinha, a catequese da sua paróquia deixou a desejar, nem sempre
os/as catequistas se sentiam devidamente preparados, recebeu os
sacramentos da Eucaristia e da Crisma atendendo ao pedido do padre, como
queria a família, como manda o costume e... pronto. Você se tornou
“cristão”; na prática, você “nasceu católico”... Entretanto, – agora lhe
pergunto: você tem consciência do que significa “ser cristão”? Você
vive de fato como “cristão”, isto é, como “seguidor de Cristo”? Eis o
problema.
É
que no fundo faltou a “iniciação cristã”. Você, criancinha, não podia
tomar consciência de nada; a adolescência é um tempo difícil para todo
mundo; sua família talvez não tivesse condições religiosas para lhe
oferecer um ambiente de fato cristão; também pode ser que a sua
comunidade eclesial não conseguia oferecer-lhe uma catequese adequada...
O fato é que você “nasceu católico”, mas não houve o “desenvolvimento”
de sua fé. A sementinha recebida no Batismo não germinou, não cresceu...
Claro, não pode produzir frutos: este é o drama de grande parte do
catolicismo brasileiro; este é também o grande desafio da catequese.
Se
não houve iniciação cristã antes do Batismo porque a pessoa foi
batizada sendo criancinha (o mesmo se diga dos sacramentos da Crisma e
da Eucaristia), a iniciação deve ser substituída pela catequese. E se,
por desgraça, a catequese falhar, está comprometida toda a educação da
fé, toda a vida cristã. Resultado prático: muitos cristãos adultos
precisam, hoje, de iniciação cristã que não tiveram antes do Batismo
porque batizados como criancinhas e porque a catequese recebida após o
Batismo foi insuficiente. Além disso, faltou-lhes o apoio cristão da
família e da comunidade eclesial, sem falar do ambiente da sociedade que
muitas vezes caminha em sentido contrário ao de Cristo. Por isso é que a
catequese de adultos é tão importante quanto a catequese das crianças.
Feliz a diocese, a paróquia, a comunidade que compreender esta realidade
e providenciar a iniciação cristã para seus cristãos adultos e uma
catequese adequada para suas crianças.
Faltando
a iniciação cristã e uma catequese adequadas, os que se dizem
“cristãos” não passarão de “crianças” em termos de fé e compromisso. A
semente da Palavra de Deus que deu início à vida divina precisa
germinar, crescer, produzir flores e frutos. Enquanto católicos
não passarem de “crianças” e não se tornarem “adultos na fé”, nosso
cristianismo será sempre sem consequências práticas em meio à sociedade.
Quando tivermos por todo Brasil catequistas bem preparados para essas
tarefas e leigos/as maduros em sua fé, então teremos um Brasil
“católico” de verdade, não tanto pelo número dos que se declaram tais no
recenseamento, quanto pela qualidade da vivência de sua fé.
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