quarta-feira, 5 de outubro de 2011

MIMETISMO

 


O mimetismo (mimesis = imitação) é uma adaptação evolutiva em que um organismo (animal ou planta) desenvolve características que o confundem com o meio ambiente, numa espécie de camuflagem, ou o assemelham a outros seres vivos com quem nada tem a ver filogeneticamente. Tudo isto acontece para escapar aos seus predadores ou para, sendo ele um predador, as suas vítimas o não reconhecerem como tal. Entre os critérios de disfarce destacam-se: o aspecto da coloração do organismo, a textura de sua superfície, a morfologia corporal, bem como o comportamento e características químicas.

( Na foto acima um insecto verde que se confunde com a folhagem)

Do que acabamos de escrever podemos concluir que há várias formas de mimetismo tais como : defensivo, agressivo e um terceiro tipo, não tão evidente, o reprodutivo. Este último tipo é muito comum entre os vegetais e dele falaremos adiante. Para já vejamos alguns tipos de mimetismo animal, exemplos fáceis de entender por todos : Existem serpentes que, conforme o seu habitat é em terra ou nas árvores, possuem escamas epidérmicas com coloração aproximada à do meio ambiente onde vivem, sendo confundidas com restos de folhas e gravetos junto ao solo, ou semelhantes ao estrato arbóreo, isto é, apresentando a cor dos troncos da árvore ou a cor das folhas, passando assim despercebidas às suas habituais vítimas, e até ao homem.
O mesmo acontece com determinados sapos e rãs que, mediante a cor e rugosidade do corpo, praticamente se confundem com o substrato lamacento ou os pedregulhos das margens dos charcos e lagos que habitam. É também muito conhecido o exemplo do camaleão que rapidamente altera a sua cor ,confundindo-se com o ambiente .
Já no caso de alguns ursos e raposas do árctico, a cor do pêlo muda de acordo com a época do ano: durante o inverno é totalmente branca e no resto do ano mais acinzentada. Neste caso não será correcto falar de mimetismo , talvez seja mais camuflagem mas ,de qualquer forma, uma vantagem para se aproximarem das presas sem serem vistos. Existem insectos que praticamente ficam invisíveis, tamanha é a semelhança com a vegetação, não se distinguindo de uma folha ou graveto; é o caso das mariposas, borboletas , joaninhas, e do insecto folha, assim chamado por se parecer com uma folha da planta onde se esconde.

( A figura acima não é uma folha mas sim im insecto com aquela forma)
Em geral, o mimetismo ocorre em espécies com pouca mobilidade, ou que costumam ficar em repouso por longos períodos.
Alguns animais aumentam o volume, a forma ou a cor do corpo para parecerem mais fortes ou perigosos e assim causarem medo em seus habituais predadores. Algumas espécies de cobras não venenosas assumem a forma e a cor, bem como o comportamento, das espécies venenosas para confundir os seus predadores
Dados estes poucos exemplos, vejamos como classificar as diversas formas de mimetismo:

Os mimetismos de defesa são aqueles em que os animais tentam parecer-se a outros muito perigosos, venenosos ou agressivos, para não serem atacados, tal como a borboleta cuja coloração das asas, quando abertas , se assemelha aos olhos de um mocho, ou a cobra do leite que sendo inofensiva, se parece com uma cobra coral (terrivelmente venenosa), afastando os atacantes.

(Borboleta em que as cores das asas lembram olhos de mocho)
Os mimetismos de ataque correspondem a animais predadores que adoptam um aspecto parecido ao da presa para se puderem aproximar sem serem descobertos, como é o caso de uma espécie de aranha que se assemelha a uma das formigas que constituem a sua alimentação. De idêntico modo o Bútio, uma ave de rapina, se confunde com outras e se mistura com elas para poder caçar.
Os mimetismos reprodutores aparecem mais tipicamente em plantas. Há plantas com flores ou partes delas que se assemelham à fêmea de um insecto, com o intuito de que o insecto macho pouse e acabe por fertilizar a planta com o pólen que transporta agarrado ao corpo. Também é aqui colocado o caso de cucos que imitam falcões para afastar as aves dos ninhos. Uma vez conseguido isto o cuco mistura os seus ovos com os da outra ave ou até os substitui . Quando o aparente perigo termina a ave volta ao seu ninho e acaba por chocar os ovos do cuco,.

O naturalista inglês Henry Bates foi o primeiro a propor um conceito de mimetismo, ao observar variadas espécies de borboletas no vale do Amazonas. Bates, cujos trabalhos a esse respeito foram publicados em 1862, verificou que as espécies gregárias de lepidópteros da família dos heliconídeos, dotadas de odor repugnante, se misturavam com outras sem essa propriedade e pertencentes à família das danaídeos. A semelhança morfológica e de coloração entre as borboletas dos dois tipos era tal que só um exame minucioso permitia distingui-las. Bates concluiu então que a aquisição do aspecto externo de uma espécie que estava protegida pelo seu odor nauseabundo fazia com que aquela, embora inofensiva para os predadores, não fosse atacada por estes. A esta modalidade de mimetismo deu-se o nome de mimetismo Batesiano.

Em 1865, o naturalista inglês Alfred Russel Wallace fixou as seguintes leis para o mimetismo:
1º- a espécie mimética (que se disfarça ) ocorre na mesma área e época do ano da que lhe serve de modelo;
2º- as espécies miméticas são sempre menos protegidas;
3º- os seres miméticos são sempre menos numerosos por se reproduzirem menos;
4º- os miméticos pertencem a grupo sistemático diferente do grupo que lhe serve de modelo;
5º- a semelhança nunca se estende a caracteres internos pois estes não são visíveis pelo predador.
Em 1879, o naturalista alemão Fritz Müller, descreveu outro tipo de mimetismo, em que a protecção de um grupo de animais se torna eficiente depois do predador aprender, por experiência própria, a seleccionar suas presas. Por exemplo, a lagarta Euchelia jacobaea, berrantemente colorida com faixas amarelas e negras, é rejeitada por aves insectívoras após um contacto mínimo, devido a secreções nauseabundas que emanam de sua derme. As vespas que trazem o mesmo padrão de coloração têm igualmente um gosto nauseabundo, por causa de seus órgãos digestivos. As aves, após terem atacado vespas ou lagartas daquelas espécies, rejeitam qualquer insecto que exiba o mesmo tipo de padrão cromático. Tal condicionamento permite, assim, protecção colectiva de grande quantidade de insectos que tenham listas amarelas e negras, mesmo sem terem mau cheiro.

O mimetismo Mülleriano apresenta as seguintes características:
--as espécies possuem coloração de advertência e protecção;
--todas as espécies devem ser igualmente abundantes;
-- a semelhança entre as formas não é necessariamente tão exacta como a que ocorre no mimetismo batesiano.
No mimetismo batesiano, uma espécie desprotegida assume o aspecto de outra, abundante e bem protegida, de modo a que fique com a reputação do modelo. No mimetismo mulleriano, várias espécies, todas frequentes e bem protegidas, mostram traços comuns de advertência. Nem sempre, todavia, é possível determinar se uma associação é Batesiana ou Mülleriana.
Tentemos agora explicar como ocorrem alguns destes fenómenos de mascaramento:

Há duas maneiras pelas quais os animais produzem cores diferentes: através de biocromos ou por metabolismo.
Os biocromos são pigmentos naturais microscópicos presentes no corpo do animal que produzem cores quimicamente. A sua química é tal que eles absorvem algumas cores da luz natural e reflectem outras. Não esqueçamos que a cor aparente de um pigmento é a combinação de todos os comprimentos de onda de luz visíveis que estão a ser reflectidos . Desta maneira os biocromos do animal parecerão verdes se a luz que neles incide for a verde, por exemplo emitida pelas folhas das árvores.
Os animais podem também produzir cores através de estruturas físicas microscópicas. Estas estruturas agem como prismas, reflectindo e refractando luz visível. Dessa maneira, uma certa combinação de cores é reflectida. Os ursos polares, por exemplo, têm na realidade a pele preta, mas parecem brancos por terem pêlos translúcidos. Quando a luz incide nos seus pêlos, cada pêlo desvia ligeiramente a luz, fazendo então com que parte dela se desvie para a superfície da pele do urso e o resto da luz seja reflectida produzindo a coloração branca. Em alguns animais, os dois processos de coloração atrás citados estão combinados. Por exemplo, répteis, anfíbios e peixes com coloração verde normalmente têm uma camada de pele com pigmento amarelo e uma camada de pele que espalha a luz para reflectir uma cor azul. Combinadas, estas camadas de pele produzem o verde.
As colorações sejam elas físicas ou químicas são determinadas geneticamente; sendo transmitidas de pais para filhos, mas não podemos esquecer que cada espécie desenvolve a sua coloração da camuflagem gradualmente, através do processo de selecção natural, daí falarmos em genética.
Relembremos que na natureza, um animal que combine melhor suas cores com as do meio em que vive, está mais apto a passar despercebido pelos predadores e, por isso, tem mais probabilidades de sobreviver . Consequentemente, o animal que combina melhor com seu meio ambiente está mais apto a procriar que um animal que não combina. As crias de um animal que se camufla provavelmente herdarão a mesma coloração, e eles também viverão o suficiente para passá-la aos seus descendentes. Desta maneira a espécie, como um todo, desenvolve coloração ideal para a sobrevivência no seu meio ambiente.
Os processos de coloração dependem da fisiologia do animal. Na maioria dos mamíferos, a coloração da camuflagem está nos pêlos, já que esta é a camada mais externa do corpo. Nos répteis, anfíbios e peixes, está nas escamas; nos pássaros está nas penas; e nos insectos estará no exoesqueleto (carapaça). A própria estrutura da cobertura externa pode também evoluir para criar uma camuflagem melhor. Em esquilos, por exemplo, o pêlo é bastante áspero e irregular, lembrando a textura de casca de árvore. Muitos insectos têm uma carapaça que imita a textura macia das folhas.

Já vimos que a forma mais básica de camuflagem é a coloração que combina com o meio ambiente de um animal. Porém, o meio ambiente de um animal pode mudar de tempos a tempos. Muitos animais desenvolveram adaptações especiais que lhes permitem mudar a coloração de acordo com a mudança do seu meio ambiente.
Uma das maiores mudanças no meio ambiente de um animal ocorre na alternância de estações do ano. Na primavera e verão, o habitat de um mamífero pode estar cheio de verde e castanhos, enquanto no outono e inverno tudo pode estar coberto de neve. Enquanto a coloração acastanhada é perfeita para um meio ambiente amadeirado de verão, pode tornar o animal um alvo fácil contra um fundo branco. Muitos pássaros e mamíferos lidam com isto produzindo diferentes cores de pêlo ou de pena dependendo da época do ano. Na maioria dos casos, tanto a mudança da luz do dia como a mudança na temperatura desencadeiam uma reacção hormonal no animal, o que causa a produção de diferentes biocromos, os pigmentos que já antes referimos.

As penas e pêlos em animais são como cabelos e unhas dos humanos - são, na verdade, tecido morto. Estão presos ao animal, mas como não estão vivos, o animal não pode fazer nada para alterar a sua composição. Consequentemente, um pássaro ou um mamífero tem que produzir uma pelagem ou penas completamente novas para mudar de cor. Em muitos répteis, anfíbios e peixes, por outro lado, a coloração é determinada por biocromos em células vivas. Os biocromos podem estar em células na superfície da pele ou em células em níveis mais profundos. Estas células em níveis mais profundos são chamadas de cromatóforos.
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Alguns animais, como algumas espécies de sépias (molusco da classe celafopoda - a mesma de lulas e polvos), podem manipular seus cromatóforos para a troca total da cor de sua pele. Estes animais possuem uma colecção de cromatóforos e cada um deles contém um pigmento singular. Cada cromatóforo simples pode estar envolto por um músculo que pode contrair ou expandir. Quando o músculo da sépia se contrai, todos os pigmentos são empurrados para a parte superior do cromatóforo. No topo, a célula fica achatada dentro de um disco largo e com a cor própria. Quando o músculo relaxa, a célula retorna ao seu formato natural de um pequeno ponto colorido difícil de ser visto . Constraindo os cromatóforos com um determinado pigmento e relaxando todos os outros com outros pigmentos, o animal pode trocar toda a cor do seu corpo. Sépias, com essa habilidade, podem gerar uma ampla gama de cores e muitos desenhos interessantes. Por perceber a cor de um fundo, o animal pode misturar-se a todos os tipos de meio ambiente.

O camaleão, por exemplo, altera a coloração de sua pele usando um mecanismo similar, mas não para se camuflar. Tendem a trocar a cor de sua pele quando o humor deles muda, mesmo sem se moverem para meio ambientes diferentes.
Quanto ao nudibranche (pequeno animal marinho) que se alimenta de um tipo específico de coral, seu corpo deposita os pigmentos deste coral na pele e em extensões externas do intestino. Os pigmentos aparecem, e o animal torna-se da mesma cor que o coral. Como o coral não é só a comida da criatura, é também o seu habitat, a coloração é a camuflagem perfeita. Quando o animal se move para outro coral de cores diferentes das do anterior, o seu corpo troca de cor devido à nova fonte de comida.
Muitas espécies de peixe gradualmente produzem diferentes pigmentos sem ter de mudar a sua dieta. Isto funciona mais ou menos como troca de pelagem sazonal dos mamíferos e pássaros. Quando o peixe troca de meio ambiente, recebe sinais visuais do novo modelo de ambiente. Baseado no seu estímulo visual, estas espécies começam a liberar hormonas que mudam a maneira de seu corpo produzir pigmentos. Com o tempo, a coloração dos peixes muda para combinar com o novo meio ambiente.
E por agora já chega de falar em mimetismo.

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