quarta-feira, 5 de outubro de 2011

SACERDOTES EGIPCIOS

A civilização egípcia ,uma das mais antigas, sempre mostrou práticas religiosas, primeiro animistas (5.000 anos antes de Cristo) tendo depois evoluído para uma espiritualidade repleta de deuses. Esta nova espiritualidade mantinha vestígios anímicos, uma vez que esses deuses eram divindades antropomórficas , ou seja, tinham elementos humanos e animais As primeiras referências a sacerdotes do Egipto datam da Primeira e Segunda Dinastias, 3.000 anos antes de Cristo, embora as inscrições que a eles aludem sejam meros títulos honoríficos que não permitem determinar, em rigor, as suas funções. Do Império Antigo existem já mais informações , sabendo-se que os sacerdotes principais eram escolhidos entre os familiares do Rei (Faraó) ou pessoas muito próximas dele. Os sacerdotes constituíam uma casta previligiada que ia obtendo cada vez mais poder mas não chegando a acumular grandes riquezas. A partir da quinta dinastia (2494- 2345 aC) com a construção de grandes templos consagrados a Rá, o deus Sol, a classe sacerdotal ganhou independência e influência.Esta influência foi aumentando nas dinastias que se seguiram, chegando a haver 80.000 sacerdotes no templo de Amon, em Karnak, no tempo de Ramsés III. Devemos esclarecer que eram consideradas sacerdotes todas as pessoas que trabalhavam no templo e que a sua actividade nada tinha de semelhante com a dos clérigos das actuais religiões ocidentais. Aquelas pessoas eram, na realidade, servos do Deus e, consoante as habilitações que possuíam , assim estavam destinadas a tarefas específicas. Se sabiam ler e escrever, iriam interpretar textos, escrever documentos etc; outros praticavam observação astronómica e definiam calendários de colheitas; outros ainda dedicavam-se á medicina preparando medicamentos,fazendo sangrias ,criando elixires ,exorcismos etc; outros eram guardas e assim por diante. Os servidores do Deus podiam casar e ter outras profissões sem incompatibilidade com o serviço do templo. Existia entre esses sacerdotes ou servidores uma hierarquia que determinava a que lugares no templo poderiam ter acesso. O clero egípcio estava organizado segundo uma rígida estrutura piramidal em que no vértice estava o Faraó como sumo-sacerdote de todo o país e de todos os deuses. Dele dependiam os corpos sacerdotais dos diferentes templos e deuses. Os corpos sacerdotais eram chefiados pelos sumo sacerdotes que tomaram designações diferentes ao longo dos tempos e consoante os lugares de culto. Como exemplo citamos o que se passava com o templo de Amon ,em Karnak,com os seus 80.ooo servidores: O Sumo-sacerdote ou Primeiro Servidor era nomeado pelo Faraó que delegava nele o privilégio de ser o Deus encarnado, isto depois de ouvido o oráculo. Não esqueçamos que o Faraó era considerado o Deus encarnado. O Primeiro Servidor do Deus era assistido por um Alto Clero que com ele podia aceder às zonas mais sagradas do templo. Este Alto Clero era ainda constituído por um Segundo,Terceiro e Quarto Servidores do Deus e tinha por missão o governo do templo, dirigir os trabalhadores e controlar todas as propriedades e terras que o santuário possuísse. Estes quatro dignitários eram apoiados por numeroso pessoal auxiliar tal como mordomos,secretários,escribas,guardas ,criados e serviçais indiferenciados. Existia também um Baixo Clero formado por sacerdotes puros, ou uab que se ocupavam do ritual diário e carregavam a "Barca Divina" nas procissões .Tinham também uma hierarquia que passava pelo Director, Supervisor e Grande Sacerdote Uab, a que se acrescentavam os sacerdotes horários ,sacerdotes horóscopos , sacerdotes músicos e sacerdotes auxiliares com diferentes funções no templo. Neste imenso pessoal existiam também mulheres cuja actividade era a música e a dança para deleite do Deus, leia-se do Faraó. À cabeça deste clero feminino estava a Raínha ou uma filha solteira do Faraó,consideradas a Esposa do Deus ou Divina Adoradora ; seguiam-se a Supervisora do Harém (equivalendo ao 2º Servidor do Deus) que verdadeiramente dirigia a área feminina ; a Mãe do Deus e a Ama do Deus , formando todas elas o Alto Clero Feminino. No Baixo Clero encontravam-se as sacerdotisas puras , as cantoras de Amon, as músicas, as bailarinas e as leigas. Na foto abaixo vemos a raínha Nefertite (1ª Servidora) em ritual de oferenda ao Deus .Os Sacerdotes não pregavam os dogmas religiosos entre a população e os templos não eram lugares de culto público ,sendo o acesso a eles reservado ao clero. O culto ao Deus era realizado três vezes ao dia : ao amanhecer, ao meio dia e ao anoitecer. O Faraó ou o Sumo Sacerdote , por sua delegação, quebrava o selo da capela e abria o armário sagrado onde se encontrava a imagem mais sagrada do Deus , iniciando-se o ritual de a alimentar,lavar, vestir. pintar e adornar com jóias , como se fosse um ser vivo. É isto que podemos observar abaixo, na pintura de um papiro que passamos a descrever: O Sacerdote, com a máscara de Deus chacal Anúbis , segura a múmia enquanto , do outro lado,um outro vestindo a pele de leopardo e acolitado por mais dois , realizam os rituais atrás citados.



Os Sacerdotes Puros , antes de iniciarem o serviço diário, deviam banhar-se em água fria do Nilo e depilar cuidadosamente todo o corpo para evitar transportar os piolhos para o templo. Como se pode ver na foto de uma estela em madeira estucada e pintada , o sacerdote músico apresenta a cabeça rapada.


Como já referimos os templos não eram locais de livre acesso público pois o povo não era digno de ter contacto directo com a divindade. As procissões, quando a barca com o sacrário era carregada aos ombros dos sacerdotes puros , constituíam o único momento em que a população poderia admirar a imagem da divindade. Em geral os templos tinham como acesso a avenida processional ladeada de esfinges,com cabeças humanas ou de carneiros, tendo junto ao peito a imagem do faraó construtor.Na entrada do templo sobressaíam duas altas torres, de paredes inclinadas . Passadas estas chegava-se a um pátio aberto, cercado de colunas, cujo formato era inspirado em motivos vegetais como feixes de papiros e flores de lótus , claramente visíveis nos capiteis. Desse pátio passava-se a uma sala de colunas , totalmente coberta que dava acesso ao santuário principal do templo. Os templos compreendiam áreas contíguas com um lago sagrado usado nos rituais, casas dos servos do Deus , oficinas de artistas e artesãos , escritórios dos escribas e dos mordomos, celeiros ,etc, tudo isto cercado por uma muralha , fazendo do templo e anexos uma cidade autêntica. Os templos que, como já tinhamos dito, eram detentores de vastas propriedades onde trabalhavam agricultores e pastores, garantiam assim os víveres necessários para a sobrevivência de todo o pessoal. Os alimentos (carnes,leite,cerveja, vinho, pão diverso,óleo, fruta, legumes,vestuário ,etc)eram dados como ofertas que depois de consagradas nos altares laterais do templo iam para as dispensas para posterior distribuição pelos servos do Deus num processo chamado "reversão das oferendas".Estes celeiros eram tão grandes que podiam alimentar anualmente cerca de 30000 pessoas.

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