quarta-feira, 5 de outubro de 2011

MP3 e o antigamente

 

Nos nossos dias, é vulgar ver os jovens a andar pelas ruas a “abanar o capacete” com uns micro auscultadores nos ouvidos e escutando música, horas seguidas, no formato MP3. As gerações dos anos trinta e quarenta ficam admiradas como um tão pequeno aparelho do tamanho de uma caixa de fósforos possa conter tanta música gravada. Vamos tentar explicar o mistério mas antes comecemos por ver como se iniciou a ideia de “congelar” os sons para mais tarde os voltar a escutar. Em 18 de Abril de 1877, Charles Cros entregou na academia das Ciências Francesa um projecto para um sistema de gravação e reprodução sonora, a que deu o nome de “Paléophone”.
Quatro meses mais tarde, o inventor americano Thomas A. Edison consegue melhorar a experiência de Cros e reproduzir o som gravado, chamando ao seu invento “Fonógrafo”.
O Fonógrafo era constituído por um cilindro giratório em torno do seu eixo, com um sistema de progressão horizontal e accionado por uma manivela. Thomas Edison melhora a sua invenção inicial substituindo o papel encerado do cilindro por uma folha de estanho, e separando ainda o estilete de gravar do de reproduzir.

Os cilindros de Edison tinham uma duração limitada de 3 a 4 utilizações, além de um mau som e curta duração das gravações, cerca de um minuto. Em 1886, Chichester Bell e Charles Sumner Tainer registaram a patente de um fonógrafo aperfeiçoado a que chamaram Gramofone, tendo substituído a folha de estanho por um cilindro de cera mineral, o ozocerito, e o estilete de aço por um de safira em forma de goiva. O passo seguinte é dado por Emile Berliner que em 1888,muda a forma dos cilindros para discos planos de 33 cm de diâmetro e 6,4 cm de espessura .
Na mesma época em que se gravavam os sons em cilindros e discos atrás citados, o dinamarquês Valdemar Poulsen patenteia o primeiro sistema de gravação magnética o “Telegraphone”. Estamos em 1898 mas seria preciso esperar várias décadas para o sistema se comercializar.
Na máquina original, a gravação era feita em fio de aço do género usado para as cordas dos pianos. O arame saía de um carreto onde estava enrolado e passava por um electroíman que o magnetizava segundo um padrão que variava de acordo com os sons captados por um microfone. O fio, à medida que ia sendo magnetizado, ia enrolando-se noutro cilindro.
Para reproduzir o som gravado era só passar o arame magnetizado pelo electroíman e, por indução magnética, geravam-se correntes eléctricas que eram transformadas em som original nos auscultadores. Este sistema, foi muito melhorado ao longo dos anos e era usado pelas estações de radiodifusão . Manteve-se até aos anos 40, quando foi substituído pela fita de plástico revestida a óxido de ferro. Mas voltemos atrás no tempo para termos uma sequência lógica nesta nossa história.A concorrência entre os Cilindros e os Discos atingiu o auge na viragem do século XIX para o século XX, acabando o Cilindro por ser totalmente derrotado em 1905, quando os Irmãos Pathé adoptaram o Disco.
Nestes primeiros tempos as gravações eram muito demoradas pois cada cilindro ou disco era gravado individualmente, ou seja, para fazer dez discos o artista tinha de cantar dez vezes.
Esta situação terminou quando Emile Berliner passou a usar um disco original para fazer os outros. Com esta nova técnica os discos passaram a ser prensados, com o recurso a matrizes obtidas por galvanoplastia, num composto à base de goma-laca, o velho disco de 78 r.pm. que se manteria em uso até meados de 1948. (O aparecimento da microgravação surgiu experimentalmente em 1943). Recuemos uma vez mais no tempo, até início do século XX.Em 1907, a Columbia Gramophone apresenta ao público, pela primeira vez, um disco de dupla face e com a espessura de um centímetro. Esta novidade era tão espectacular, que a Columbia deu ordens aos seus vendedores para atirarem os discos ao chão, para provarem que eram inquebráveis.
Os avanços técnicos sucedem-se e os discos vão aumentando de tamanho e diminuindo de espessura. Discos de 50 e 60 cm de diâmetro, com cerca de 15 minutos de duração, são já comuns em 1910.
Os laboratórios Bell experimentam em 1919 o registo eléctrico, gravações obtidas electricamente através de um microfone, isto é, o primeiro “pick-up”. O “pick-up” é a célula captadora de som composta por uma ponta, a agulha, e um sistema conversor que aproveita as variações introduzidas no campo magnético de uma bobine condutora, produzindo desta forma pequenas correntes eléctricas que,ao serem amplificadas, reproduzem o som original. Por este facto os gramofones estiveram na moda apenas até finais dos anos 20, altura em que apareceram no mercado os primeiros gira-discos eléctricos.A gravação em disco era prática comum mas ,paralelamente, a gravação magnética ia-se impondo para outros fins que não o de fazer discos. Desde que Poulsen inventou o “Telegraphone”, que as melhorias foram muitas, mas ao chegar a década de 30, ainda se gravava em fio de aço e este ainda se manteria em uso em muitas estações de Rádio até aos anos 40, como já havíamos referido anteriormente.
Em 1934, a BASF produzia na Alemanha a primeira fita de gravação magnética, para uma máquina da AEG Telefunken. A fita era de plástico revestido num dos lados com um pó de oxido de ferro, o que permitia uma diminuição no peso e no tamanho dos carretos e o aumento da fidelidade e duração da gravação.
Este invento era um avanço considerável na gravação sonora, já que as estações de rádio podiam já gravar os seus programas e manipulá-los em estúdio. Se houvesse um engano, podia ser corrigido a partir do ponto em que ocorrera o erro e não repetindo na totalidade, como acontecia com os discos. A guerra contudo atrasou todas as experiências . Após a II Guerra Mundial o Vinil iria sobrepor-se à goma-laca, o material de que eram feitos os discos há mais de 60 anos. Este novo material permitia que os sulcos dos discos fossem mais estreitos, o que permitia reduzir a velocidade e aumentar a duração dos mesmos ,tocando cerca de 23 minutos de cada lado a 33 1/3 rpm. Este novo disco que foi introduzido pela Columbia recebeu o nome de Long Playing ou simplesmente LP.
A gravação manteve-se praticamente inalterável durante uma década, com os estúdios a gravarem em bobines de fita magnética em Mono que depois passavam a uma matriz, que faria vários discos de vinil iguais, para serem vendidos ao público.
Só em 1958 é que o panorama musical muda de novo com a introdução de discos de 45 e 33 1/3 rpm, estereofónicos.

A gravação profissional avançava e, para os amadores, as empresas iam criando aparelhos mais pequenos de bobines. Nos anos 60, a empresa Philips introduziu no mercado a cassete, uma pequena caixa que continha os carretos e a fita magnética, transformando desta forma a gravação doméstica, e a profissional .

A década de setenta traz uma novidade à gravação: a quadrifonia. Este sistema grava quatro sinais de som independentes. Pretendia-se com esta solução criar um ambiente mais realista, colocando 4 altifalantes em torno do ouvinte (surround), mas esta solução só seria viável comercialmente em finais dos anos 90 com a introdução do DVD Vídeo, DVD Audio e Super Audio Compact Disc, numa versão de 5 colunas mais um sub woofer.
Devido aos altos custos de produção e das aparelhagens reprodutoras, o sistema foi abandonado sendo feitas só umas poucas gravações neste sistema.

Na década de 70, assiste-se ao aparecimento da gravação digital, usando a técnica “PCM”, Pulse Code Modulation, num gravador de vídeo profissional, isto conseguido pela “Nippon Columbia” .
Em finais da década a Sony e a Phillips aliaram-se para desenvolver um disco digital de apenas 11,5 cm de diâmetro e com a duração de uma hora de um só lado. Em 1983, começou a comercialização deste suporte digital com o nome de Compact Disc, ou simplesmente CD.

O CD era anunciado como o “som superior e eterno”, pois os fabricantes afirmavam que o disco não sofria desgaste, já que não era tocado por nenhuma agulha como no vinil, e por ser digital o som era de “superior qualidade”.
Mas dez anos depois, o CD, ainda não se tinha conseguido impor, pois a qualidade do som era inferior ao disco de vinil e sofria dos mesmos problemas de manuseamento: era preciso ter cuidado para não riscar a face gravada, e os leitores de CD sofriam de “microfonia”, ou seja captavam as vibrações da energia acústica emanada pelas colunas, tal e qual uma agulha de gira-discos.
O CD só acabou por se impor, não pelas suas “qualidades” mas porque era mais barato fabricar CDs do que discos de Vinil e assim os velhinhos LPs deixaram de ser fabricados em massa, no inicio dos anos 1990.
Paralelamente ao lançamento do CD, com a entrada na era da gravação digital, havia que pensar na substituição das velhas cassetes e bobines de fita analógica. Trabalhando agora em campos separados a Philips e a Sony, apresentam duas soluções de gravação doméstica digital.
A Philips apresenta a sucessora da cassete analógica , a“
D.C.C”., Digital Compact Cassete. Este suporte era igual às cassetes analógicas mas de gravação digital e os gravadores de DCC até podiam ler as cassetes analógicas. Não teve sucesso comercial e a Philips deixou de comercializar este suporte em meados dos anos 90.
A Sony apresenta, em finais da década de 80, o “D.A.T.”, Digital Audio Tape, uma cassete totalmente diferente e de qualidade de som superior ao CD, mas devido ao seu preço e à falta de cassetes DAT pré-gravadas, apenas conheceu sucesso nos meios profissionais.

Após o fracasso comercial do DAT a Sony apresenta em 1993 um suporte digital novo, com uma qualidade próxima da de um CD: O Mini-Disc.
O Mini-Disc apresentou-se como uma alternativa viável à cassete analógica, que nos anos 90 era ainda o suporte mais popular, acesso directo a faixas, regravável um milhão de vezes sem perda de qualidade, digital, etc.. Este suporte depressa ganhou adeptos, até porque o CD gravável ainda não era uma opção ao alcance de todos. Naquela altura os CD-R só gravavam uma vez, eram caros, assim como o equipamento que os gravava. Os CD-RW, apareceram depois, mas ainda eram mais caros.
O CD em 1994, sofre uma melhoria, embora esta “melhoria” não seja consensual, com a introdução do “H.D.C.D.”, “High Definition Compatible Digital”, um sistema da americana “Pacific Microsonics, Inc.”. Quando os discos são gravados com este sistema soam melhor em leitores de CD convencionais, e os leitores HDCD tiram melhor partido das gravações em CDs normais, o ideal era o disco e o leitor serem HDCD.

Com o abandono da DCC, por parte da Philips, esta começou a comercializar gravadores de CDs, fazendo concorrência ao MD, mas ainda assim sem grande sucesso pois a gravação de CDs estava dominada pelos computadores. Por esta altura a cassete analógica ainda cá estava.
Em 1996, aparece um suporte novo de vídeo que traz uma novidade em som: o Surround.
O “D.V.D.”, Digital Versatile Disc, foi a tecnologia que mais rapidamente teve sucesso junto dos consumidores, enquanto o CD demorou cerca de quinze anos para se impor, o DVD apenas precisou de três.
O DVD-Video, trazia a novidade do surround, cinco canais de som independentes e mais um de baixas frequências, traziam para casa o som do cinema. Neste suporte três formatos de som eram concorrentes: o Doldy Digital; o DTS e o MPEG multichanel.O MPEG multichanel depressa foi abandonado, mantendo-se o Doldy Digital e o DTS como formatos concorrentes.
O aparecimento do DVD-Video trouxe de novo à tona as deficiências do CD, numa altura em que os discos de vinil voltavam a aparecer nas prateleiras das discotecas, talvez por nostalgia ou porque ainda se fabricavam gira-discos. Isto fez com que Philips e Sony se juntassem outra vez para criar o sucessor do CD, já que se falava do DVD-Audio, para sucessor do CD ; esta “reunião” fez surgir o “S.A.C.D.”, Super Audio Compact Disc”.
O DVD-Audio é uma melhoria em relação ao CD, tem melhor som e é multicanal, mas a gravação ainda é em PCM, como há 30 anos.
O SACD é também um salto qualitativo em relação ao CD e um passo à frente do DVD-Audio, pois grava em “D.S.D.”, “Direct Stream Digital”, que é um avanço em relação ao PCM.
Enquanto os sistemas de alta definição tentam ganhar posição no mercado, formatos baseados em computador e fortemente comprimidos, como o mp3 , ganham terreno principalmente nos consumidores mais jovens. A Internet proporcionou isso mesmo. Mas afinal o que é o mp3 ?

O MP3 (MPEG-1/2 Audio Layer 3) foi um dos primeiros tipos de compressão de áudio com perdas imperceptíveis ao ouvido humano. O método de compressão usado no MP3 consiste em retirar do áudio tudo aquilo que o ouvido normalmente não conseguiria perceber, devido ás limitações da audição próprias do ser humano que tentaremos explicar mais à frente.
MP3 é a abreviatura de MPEG 1 Layer-3 (camada 3). As camadas referem-se ao esquema de compressão de áudio do MPEG-1. Foram projectadas em número de 3, cada uma com finalidades e capacidades diferentes. Enquanto a camada 1, que dá menor compressão, se destina a utilização em ambientes de áudio profissional (estúdios, emissoras de TV, etc) onde o nível de perda de qualidade deve ser mínimo devido à necessidade de reprocessamento, a camada 3 destina-se ao áudio que será usado pelo cliente final. Como se espera que esse áudio não sofra novos ciclos de processamento, isto é, não sirva para fazer mais cópias, a compressão pode ser menos exigente e aproveitar melhor as características psico acústicas do som limitando-se apenas às frequências que o ser humano detecta..
A compressão típica da camada 1 é de 4 para1 a camada 2 é de 8:1 enquanto a da camada 3 é de 11 para 1. É importante lembrar que essa diferença da compressão não tem nada a ver com uma camada ser mais avançado que a outra tecnologicamente
Após o êxito mundial da Internet, o MP3 causou grande revolução no mundo do entretenimento. Assim como o LP de vinil, a cassete de áudio ou o CD, o MP3 fortaleceu-se como um popular meio de distribuição de músicas. A questão chave para entender todo o sucesso do MP3 baseia-se no facto de que, antes dele ser desenvolvido, uma música no computador era armazenada no formato WAV, que é o formato padrão para arquivo de som em PCs, chegando a ocupar dezenas de megabytes no disco do computador
As taxas de compressão alcançadas pelo MP3 chegam a até 12 vezes, dependendo da qualidade desejada. Para fazer isso o MP3 utiliza, além das técnicas habituais de compressão, estudos das limitações e imperfeições da audição humana.
Como tínhamos prometido, vamos dar uma ideia do que significam as limitações do ouvido humano:
Faixa de frequência audível humana: O ouvido humano, devido às suas limitações físicas, é capaz de detectar sons numa faixa de frequência que varia de 20 a 20.000 Hz, Desta forma, não faz sentido armazenar dados referentes a sons fora desta faixa de frequência, pois ao serem reproduzidos, os mesmos não serão percebidos por um ser humano. Esta é a primeira limitação da audição humana do qual o sistema MP3 faz uso para alcançar altas taxas de compressão.
Limiar de audição na faixa de frequência audível: Outro factor utilizado pela codificação MP3 é a curva de percepção da audição humana dentro da faixa de frequências audíveis, ou limiar de audição. Apesar da faixa de audição humana variar entre 20 e 20.000 Hz, a sensibilidade para sons dentro desta faixa não é uniforme. Ou seja, a percepção da intensidade de um som varia com a frequência em que este se encontra. Desta forma, o MP3 utiliza-se desta propriedade para obter compressão em arquivos de áudios..
Mascaramento em frequência e mascaramento temporal: O mascaramento em frequência ocorre quando um som que normalmente poderia ser ouvido é mascarado por outro, de maior intensidade, que encontra-se em uma frequência próxima. Ou seja, o limiar de audição é modificado (aumentado) na região próxima à frequência do som que causa o ocorrência do mascaramento, sendo que isto se deve à limitação da percepção de frequências do ouvido humano. O mascaramento em frequência depende da frequência em que o sinal se encontra, podendo variar de 100Hz a 4 KHz. Em função deste comportamento, o que o método de compressão do MP3 faz é identificar casos de mascaramento em frequência e descartar sinais que não serão audíveis devido a este fenómeno.
E de electrónica já chega por hoje.

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